Folha de S. Paulo


Após saída dos EUA, países do TPP querem incluir China no acordo

Austrália e Nova Zelândia anunciaram nesta terça (24) que pretendem salvar a Parceria Transpacífico (TPP) ao encorajar a China e outros países asiáticos a aderir ao acordo de comércio internacional, depois que o presidente dos EUA, Donald Trump, cumpriu sua promessa e se retirou do pacto em decreto assinado na segunda (23).

A TPP, que havia sido assinada mas não ratificada pelo Congresso dos EUA, tinha o apoio do ex-presidente Barack Obama justamente por servir de contrapeso à influência chinesa na região do Pacífico. A ideia era isolar Pequim, que não participou das negociações do acordo. Agora, a China é cortejada para integrar uma tentativa de TPP remodelado e pode expandir seu poderio econômico.

Manan Vatsyayana - 23.jan.2016/AFP
Manifestantes protestam contra a Parceria Transpacífico em Kuala Lumpur, na Malásia, em 2016
Manifestantes protestam contra a Parceria Transpacífico em Kuala Lumpur, na Malásia, em 2016

O premiê australiano, Malcolm Turnbull, disse ter conversado com os governos de Japão, Nova Zelândia e Cingapura sobre a possibilidade de manter o acordo mesmo sem os EUA. "Não vamos desistir. Certamente há potencial para que a China se torne parte do TPP".

"A arquitetura original pretendia facilitar a adesão de novos países", disse Steven Ciobo, ministro do Comércio Internacional da Austrália. "Sei que a Indonésia expressou interesse, e haveria espaço para a China, se reformularmos os termos."

A posição não é compartilhada pelo governo do Japão, segunda maior economia dentro do TPP original e um dos países que lideraram o processo de formação da parceria, que incluía —além dos EUA, Austrália, Nova Zelândia e Cingapura— Brunei, Canadá, Chile, Malásia, México, Peru e Vietnã.

Koichi Hagiuda, vice-chefe de gabinete do premiê Shinzo Abe, afirmou que o país não considera entrar em negociações com outros países do TPP baseadas na ausência dos EUA.

"Como o primeiro-ministro Abe deixou claro, o acordo sem os EUA é irrelevante."

O TPP, cujas negociações demoraram cinco anos, exigia ratificação por pelo menos seis países que respondessem por 85% do PIB combinado dos países membros. Como os EUA sozinhos representavam 60% do total, o acordo dependia do ingresso efetivo de Washington.

O premiê japonês Abe fizera do acordo um dos pontos centrais de suas políticas de crescimento econômico e, em companhia do governo Obama, o considerava como estratégico diante da ascensão da China.

Hua Chunying, porta-voz do Ministério do Exterior, não disse diretamente se a China poderia estar interessada em aderir, mas afirmou que, em um momento de incerteza econômica, a região Ásia-Pacífico deveria "seguir o caminho de um desenvolvimento aberto, inclusivo e contínuo, buscando cooperação e situações vantajosas para todos".

Como um contraponto ao TPP original, a China já vinha promovendo a criação da Parceria Regional Econômica Ampla (RCEP, na sigla em inglês) com os países do Sudeste Asiático.

O premiê neozelandês, Bill English, disse que os EUA estavam permitindo que a influência chinesa crescesse e que o foco na região poderia se voltar a arranjos comerciais alternativos.

"O RCEP até agora vinha sendo levado em banho-maria, mas pode ser que surja vontade política de acelerá-lo se o TPP não for adiante", afirmou English.

Todd McClay, ministro neozelandês do Comércio Internacional, disse ter conversado com ministros de países membros do TPP durante o Fórum de Davos, há uma semana, para discutir o futuro do bloco sem os EUA.


Endereço da página:

Links no texto: