Folha de S. Paulo


Negociações para acordo de paz na Síria começam no Cazaquistão

Com acusações mútuas, negociadores representando o regime sírio e as forças rebeldes deram início nesta segunda-feira (23) em Astana, no Cazaquistão, a suas esperadas negociações de paz.

Essa é a primeira reunião entre o regime e os combatentes rebeldes. Em ocasiões anteriores, encontraram-se apenas representantes políticos da oposição.

Mukhtar Kholdorbekov/Reuters
Participantes das negociações de paz sobre a Síria em Astana, capital do Cazaquistão
Participantes das negociações de paz sobre a Síria em Astana, capital do Cazaquistão

Os rebeldes, no entanto, se recusaram a negociar diretamente com a comitiva do regime, e os primeiros encontros sugerem que não haverá nenhuma resolução imediata para o conflito.

Bashar al-Jaafari, líder da delegação do regime sírio, reclamou do que chamou de falta de profissionalismo dos negociadores rebeldes, que teriam defendido os "crimes de guerra" cometidos pela milícia terrorista Jabhat Fateh al-Sham —antiga Jabhat al-Nusra.

Mohammad al-Alloush, da delegação rebelde, disse por sua parte que o governo sírio é "um regime sanguinário despótico" apoiado por "milícias sectárias vingativas". Rebeldes exigem a saída de milícias apoiadas pelo Irã, como a libanesa Hizbullah.

A reunião deve ser encerrada já nesta terça-feira (23) com um anúncio formal apoiando a criação de um instrumento de monitoramento do cessar-fogo em efeito desde 30 de dezembro, apesar de violações cometidas por ambos os lados.

Mesmo que seja finalizada sem grandes anúncios, a reunião em Astana pode levar à retomada do diálogo promovido pelas Nações Unidas, suspenso em abril.

O processo poderia culminar em negociações diretas entre governo e oposição em Genebra, em fevereiro.

MEDIAÇÃO

As conversas em Astana foram mediadas por Rússia, Turquia e Irã e diante da simbólica ausência dos EUA, que têm perdido terreno diplomático nessa região.

O Cazaquistão chegou a convidar os EUA na semana passada, mas Washington recusou. Havia forte oposição iraniana à presença americana nessas reuniões.

O enfoque das negociações de Astana é a manutenção do frágil cessar-fogo, à espera de uma solução política a essa guerra iniciada em março de 2011. Estima-se que cerca de 500 mil pessoas morreram desde então.

A solução política, no entanto, é improvável enquanto as principais potências envolvidas discordarem a respeito do futuro do país.

Rússia e Turquia defendem posições opostas em relação a Bashar al-Assad, ditador da Síria. A Rússia insiste em sua permanência, e a Turquia, em sua saída.

Os encontros desta semana ocorrem semanas após a tomada de Aleppo, segunda cidade do país, pelo regime sírio —até o momento, a principal vitória de Assad na guerra. É pouco provável, portanto, que o regime faça concessões nesse sentido.


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