Folha de S. Paulo


Principais países da Europa atacam protecionismo e tom nacionalista

O tom nacionalista e as alusões ao protecionismo comercial de Donald Trump alimentaram críticas das principais economias da Europa ao novo presidente e deixaram apreensivos os países virtualmente prejudicados no governo do republicano.

Sem citar o nome do colega, o presidente da França, François Hollande, disse que não é possível e desejável que um país se afaste da economia mundial, em referência ao desejo do americano de priorizar a indústria local.

Daniel Leal-Olivas/AFP
Manifestantes seguram foto de Donald Trump e cartazes em protesto na embaixada em Londres
Manifestantes seguram foto de Donald Trump e cartazes em protesto na embaixada em Londres

"Fechar as fronteiras como recomendam alguns, entre os quais o que presta julgamento em Washington, que quer impor taxas ou direitos para impedir a entrada de produtos, equivale a por em questão o trabalho", disse.

O vice-primeiro-ministro alemão, Sigmar Gabriel, alertou que o mundo deve se preparar para "tempos difíceis nos próximos anos". "O que ouvimos foi um tom fortemente nacionalista. É um discurso extremamente sério."

Tanto Hollande quanto Gabriel fazem alusão ao futuro dos próprios países: a França escolhe seu presidente em abril e a Alemanha vai às urnas para eleger o novo Parlamento em setembro. Em ambos, os governos enfrentam dificuldades e há o risco de avanço da extrema direita.

O ministro do Tesouro britânico, Philip Hammond, considera a alternância um "grande problema" para a Europa, principalmente na defesa. Trump considera a Otan obsoleta e no discurso de posse disse que priorizará os recursos militares para proteger os americanos.

"Qualquer coisa que mude a mude a situação da Europa, que é vizinha da Rússia, mas vive sob a proteção dos EUA, altera as dinâmicas da União Europeia", disse Hammond.

O papa Francisco pediu ao novo presidente que defenda a dignidade humana "num mundo imerso em graves crises humanitárias". Durante a campanha, o pontífice criticou o americano pela proposta de construir um muro na fronteira com o México e barrar a entrada de muçulmanos nos Estados Unidos.

A prioridade do novo governo à produção nacional fez com que México e Japão agissem com cautela. O mexicano Enrique Peña Nieto disse que a proteção de seus concidadãos será prioridade.

"A soberania, o interesse nacional e a proteção dos mexicanos guiará nossa relação com o governo dos EUA."

O premiê japonês, Shinzo Abe, disse que a relação com Washington "é um princípio imutável" e prometeu visitar Trump nos próximos meses.

A China, principal alvo das críticas de comércio exterior de Trump, não se manifestou até o momento. Na terça (17), o presidente Xi Jinping atacou o agora colega americano e defendeu o livre-comércio.

Nobel da Paz pelo acordo com as Farc, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, pediu que Trump volte seus olhares para a América Latina, pois aqui é que estão os verdadeiros interesses estratégicos dos EUA".

Apesar do pedido, a política para os vizinhos do sul continua sendo uma incógnita. O governo brasileiro não se manifestou até o momento.

FESTA

Enquanto milhares de pessoas protestavam contra Trump nas ruas de Washington, Londres e Berlim e quebravam piñatas do republicano em frente a símbolos americanos no México, o clima na capital do antagonista histórico dos EUA era de festa.

Cerca de cem nacionalistas russos estouraram champanhe em uma boate de Moscou assim que o republicano assumiu. Eles esperam que, com o novo governo, a situação do país melhore.

Na festa havia bonecos de Trump, do líder russo, Vladimir Putin, e da francesa Marine Le Pen, a próxima aposta da direita para assumir um governo que hoje é liberal.


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