Folha de S. Paulo


Donald Trump chega à Casa Branca em pé de guerra com a classe artística

O presidente eleito Donald Trump foi apresentador do programa "O Aprendiz" nos EUA, mas a ligação da Casa Branca com Hollywood não é nova. Em 1981, o ator Ronald Reagan (1911-2004) não apenas assumiu a presidência do país como foi reeleito.

Reagan, que enfrentou protestos pela política conservadora, governou numa época em que seus colegas hollywoodianos eram menos acessíveis e não tinham o poder de viralização da internet.

Paul J. Richards/AFP
Trump chamou Meryl Streep de 'superestimada' quando ela fez um discurso contra ele no Globo de Ouro
Trump chamou Meryl Streep de 'superestimada' quando ela fez um discurso contra ele no Globo de Ouro

Hoje, Donald Trump chega ao poder tendo a rejeição de quase toda da indústria cinematográfica americana, campanha que começou antes mesmo de ser eleito.

Bryan Cranston, protagonista da série "Breaking Bad", disse que se "mudaria para o Canadá" se Trump virasse presidente —até agora, ainda mora em Los Angeles.

Steven Spielberg, J.J. Abrams, Meryl Streep e o presidente da Dreamworks, Jeffrey Katzenberg, organizaram eventos de arrecadação de fundos para Hillary Clinton.

Astros como Robert Downey Jr., Scarlett Johansson, Mark Ruffalo e Emma Stone fizeram vídeos anti-Trump.

Pender para o lado liberal sempre foi marca de Hollywood, a não ser quando o bolso era ameaçado. Foi o caso da paranoia comunista dos anos 1950, quando foi criada uma lista de atores, diretores, produtores e roteiristas supostamente ligados ao socialismo.

Ou nos anos 1930, quando se aproximou às escondidas de um ascendente Adolf Hitler para não perder o mercado germânico. O mesmo não vai acontecer em 2017.

O dinheiro do cinema atual caminha de mãos dadas com a diversidade. O mercado internacional hoje representa quase 70% dos lucros dos estúdios. Além disso, latinos e negros representam 45% dos compradores de ingressos de cinema dos EUA.

Talvez por isso os executivos não tenham reprimido astros como Mark Hamill ("Star Wars"), que no tempo livre narra mensagens de Donald Trump com a voz do vilão Coringa, personagem que dubla em desenhos animados.

Meryl Streep foi quem gerou a maior repercussão. Em discurso no último Globo de Ouro, a atriz criticou as atitudes e filosofias de Trump. O político respondeu, chamando-a de "superestimada" e "lacaia de Hillary Clinton".

Robert De Niro defendeu a amiga: "Compartilho seus sentimentos sobre delinquentes e valentões. Basta."

ALIADOS

Mas, como em qualquer indústria, há vozes dissonantes. Algumas poderosas, como o CEO da Marvel, Ike Perlmutter, que doou US$ 1 milhão para uma campanha de arrecadação para veteranos organizada por Trump.

Conhecido republicano, Clint Eastwood, declarou apoio, apesar de reconhecer que o político fala "algumas bobagens". Em escala menor, James Caan ("O Poderoso Chefão") escolheu Trump, com a ressalva de esperar que seu "ego não interfira e que contrate pessoas boas".

A relação entre Hollywood e Trump deve se mostrar tensa neste início, principalmente se cumprir suas promessas. Atores não temem mais "banimentos" quando lutam por causas populares, mas o republicano sabe lidar com o showbusiness como poucos.


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