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Anticomunista, Ronald Reagan não citou União Soviética na posse

A expectativa com a posse de Donald Trump nesta sexta (20) muito se assemelha àquela em relação ao ex-presidente americano Ronald Reagan (1911-2004), em 1981, principalmente quanto ao discurso inaugural.

Também republicano e tão midiático quanto o futuro presidente dos EUA, Reagan venceu o democrata Jimmy Carter, então ocupante da Casa Branca, que em seu governo viu a inflação dobrar e o desemprego e a taxa de juros se elevar.

Biblioteca Presidencial Ronald Reagan/Reuters
O republicano Ronald Reagan e sua mulher, Nancy, acenam durante o desfile da posse de 1981
O republicano Ronald Reagan e sua mulher, Nancy, acenam durante o desfile da posse de 1981

Por Reagan ser considerado um belicista e anticomunista, todos esperavam por um discurso inflamado do ex-ator contra a União Soviética e o Irã. Mas não foi isso o que aconteceu, de acordo com o jornalista Paulo Francis, em texto publicado na Folha em 21 de janeiro daquele ano.

"O mais interessante no curto discurso de Ronald Reagan foi o que ele não disse. Reagan não mencionou a URSS. Avisou aos inimigos da liberdade (sic) que os EUA estão dispostos a negociar e a se sacrificarem, mas não a se renderem. Mais significativo, não disse uma palavra sobre o rearmamento nuclear", escreveu o correspondente.

Para Paulo Francis, o recém-empossado governante quis mostrar "uma imagem bem diferente da do bravo guerreiro de extrema direita projetada pela imprensa e TV mais tola (a maioria)".

O republicano deixou de lado ataques a nações rivais para falar sobre ajustes nas contas do governo e medidas para melhorar a economia.

Com Trump, após suas promessas polêmicas, como a criação de um muro entre os EUA e o México, cria-se a expectativa em torno do tom de suas palavras na posse. No entanto, as semelhanças com o presidente empossado em 1981 param por aí, já que o bilionário mostra simpatia com o governo do presidente russo Vladimir Putin.

Apesar de não citar a União Soviética em seu discurso, em plena Guerra Fria, a política externa de Reagan durante seu primeiro mandato foi utilizada para diminuir a influência ideológica dos soviéticos. Em represália à invasão russa ao Afeganistão, Reagan aplicou sanções econômicas ao país comunista.

Com o argumento de promover a paz e a democracia, Reagan lançou o programa Guerra nas Estrelas, um sistema de satélites com canhões antimísseis, ação que acirrou a guerra armamentista nos anos 1980.

Em 1986, o governo Reagan foi denunciado pelo envolvimento no chamado Escândalo Irã-Contras. Os EUA vendiam armas ao Irã em troca da libertação de reféns, desrespeitando embargo de 1979.

O lucro das operações foi utilizado para ajudar os "contras", rebeldes de direita que lutavam contra o governo esquerdista da Nicarágua.


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