Folha de S. Paulo


Faltou 'timing' na relação com o Brasil, diz assessor de Barack Obama

Sob o governo de Barack Obama, que termina na sexta (20), as relações entre os EUA e Brasil foram definidas pelos desencontros.

Dita em tom de lamento, esta foi a conclusão do principal assessor de política externa de Obama, Ben Rhodes, ao lembrar da crise mais séria entre os dois países nos últimos anos, gerada pela revelação, em 2013, de que a inteligência dos EUA espionava a ex-presidente Dilma Rousseff.

Saul Loeb - 29.jun.2015/AFP
O presidente dos EUA, Barack Obama, conversa com Dilma Rousseff durante visita a Washington
O presidente dos EUA, Barack Obama, conversa com Dilma Rousseff durante visita a Washington

O incidente levou ao cancelamento da visita que Dilma faria naquele ano aos EUA (realizada em 2015 ) e pôs nuvens sobre a relação bilateral.

Questionado nesta terça (17) pela Folha sobre o episódio, Rhodes disse que foi um dos entraves que impediram a aproximação que o presidente Obama gostaria de ter com o Brasil.

"Nunca conseguimos ter o timing certo com o Brasil. Há tantos benefícios naturais em termos cooperação. Quando chegamos [à Casa Branca], nós realmente queríamos dar prioridade a isso. Uma das primeiras conversas que o presidente Obama teve foi com Lula. É uma relação de potencial não realizado em termos do que podemos fazer em comércio e economia, e também na região", disse.

A três dias de deixar o cargo, o vice-conselheiro de Segurança Nacional de Obama disse que esse potencial começava a ser explorado com parcerias em várias áreas quando vieram as revelações do ex-técnico da Agência de Segurança Nacional (NSA) Edward Snowden de que os EUA espionavam Dilma e líderes de outros países amigos, como a alemã Angela Merkel.

As relações com o Brasil, porém, foram as que mais sofreram, afirmou.

"Começamos a construir uma ampla base de iniciativas para cooperar em áreas como energia e os desafios do desenvolvimento em outros países. Fizemos progresso até que vieram as revelações. Não há outro país no mundo com que nossas relações sofreram mais por causa dessas revelações. Não há dúvida", disse Rhodes, durante entrevista a correspondentes estrangeiros em Washington.

Segundo ele, a crise poderia ter sido menos grave, mas os esforços dos EUA em remendar as relações não tiveram efeito. Ele atribui isso à forma com que as revelações foram feitas, com o propósito explícito de causar o maior dano possível ao elo entre os países.

"Ganhou vida própria no Brasil. Nada do que dizíamos parecia importar durante um tempo. E isso também pode ter sido porque as informações foram divulgadas claramente para ter um efeito em países específicos. Brasil e Alemanha foram claramente alvos para tentar criar fricções nas relações", disse Rhodes, que consegue ver um lado positivo na crise.

"Nos forçou a explicar como funciona. E isso permitiu que reconstruíssemos a relação."

Donald Trump, que assume nesta sexta, não deu qualquer indicação sobre a relação que pretende ter com o Brasil.


Endereço da página:

Links no texto: