Folha de S. Paulo


Conferência da paz sobre Oriente Médio reúne potências em Paris

Thomas Samson/Reuters
French Minister of Foreign Affairs Jean-Marc Ayrault addresses delegates at the opening of the Mideast peace conference in Paris, January 15, 2017.Around 70 countries and international organisations are making a new push for a two-state solution in the Middle East at the conference in Paris. REUTERS/Thomas Samson/POOL ORG XMIT: JNA32
Jean-Marc Ayrault, chanceler francês, discursa na abertura da conferência da paz, em Paris

Chanceleres e diplomatas de 75 países se reuniram neste domingo (15) para tentar reacender o processo de paz entre israelenses e palestinos, apesar do balde de água fria simbolizado pela ausência de ambos Israel e a Autoridade Nacional Palestina.

A conferência de paz, realizada cinco dias antes da posse de Donald Trump, presidente eleito dos EUA, tentou enviar uma derradeira mensagem de otimismo em relação a um dos conflitos centrais do Oriente Médio.

O governo de Trump pode tomar uma série de medidas vistas como danosas a essas negociações, como mover a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém.

O encontro foi encerrado às 17h30 locais (14h30 em Brasília) com uma declaração conjunta pedindo que as lideranças dos países reafirmassem seu comprometimento com uma solução de dois Estados ao conflito.

A nota final também insistiu na necessidade de negociações diretas entre as partes envolvidas e uma nova conferência até o fim do ano para "revisar o progresso"

O Brasil foi representado por Paulo Cesar de Oliveira Campos, embaixador em Paris, informou o Itamaraty.

O encontro deste domingo foi iniciado por comentários de Jean-Marc Ayrault, chanceler francês, que afirmou não haver solução ao conflito a não ser a proposta de criar dois Estados separados. Ele disse estar ciente das reservas sobre a conferência, em uma mensagem a Israel.

Binyamin Netanyahu, premiê israelense, apresentou nos últimos dias fortes objeções à realização dessas negociações. Em reunião com seu gabinete, ele afirmou que a conferência era "fútil" e que pertencia ao "mundo de ontem". "O amanhã será diferente", disse.

Mais de mil pessoas se reuniram diante da embaixada israelense em Paris para protestar contra a conferência de paz, afirmando que esse encontro tinha por objetivo ferir a posição do país.

EMBAIXADA

Quando Trump assumir a Presidência, no dia 20, a posição de Netanyahu deve fortalecer-se. A transferência da embaixada a Jerusalém, de grande simbolismo, seria uma vitória de Israel. O escritório diplomático está em Tel Aviv há 68 anos. O status de Jerusalém como capital israelense é controverso.

Ayrault, chanceler francês, afirmou que a possível decisão de mover a embaixada seria uma "provocação" e que teria "consequências".

Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, escreveu a Trump afirmando que essa mudança destruiria o processo de paz e impediria que os EUA continuassem a ser um mediador no Oriente Médio.

As relações entre EUA e Israel se deterioraram nos últimos anos, durante o governo de Barack Obama, chegando a um ponto baixo em dezembro quando Washington decidiu não vetar uma resolução da ONU que exigia o fim dos assentamentos israelenses na Cisjordânia.

Os assentamentos israelenses nesse território —conquistado por Israel na guerra de 1967— são considerados um dos principais entraves às negociações. Essa posição foi reafirmada em Paris.

Mas John Kerry, secretário de Estado americano, comunicou a Netanyahu neste domingo que a conferência de Paris não levaria a outras medidas na ONU, segundo informações de um jornal israelense.

O presidente francês, François Hollande, disse que, além dos assentamentos, o diálogo é ameaçado pelos "terroristas que sempre temem a paz", referindo-se a extremistas palestinos, como aqueles da facção radical Hamas, na faixa de Gaza.

Os países presentes condenaram também qualquer incitamento à violência, em seu comunicado final.


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