Folha de S. Paulo


Coiote flagrado pela Folha se passou por PF e teve caso analisado por Moro

Responsável por intermediar a arriscada travessia de barco de dezenas de imigrantes ilegais brasileiros aos EUA via Bahamas, o coiote Alexandre Soares da Silva já foi detido e condenado por se passar por policial federal.

A denúncia contra ele foi aceita em 2014 pelo até então pouco conhecido juiz federal Sergio Moro, de Curitiba.

No último domingo (8), a Folha revelou que Silva havia agenciado, no dia anterior, a viagem de seis imigrantes brasileiros de Nassau, a capital das Bahamas, até Miami, em percurso de 13 horas que envolveu uma troca de barco em alto mar.

À reportagem, que se identificou como interessado em cruzar para os EUA, Silva disse que a viagem custaria US$ 12 mil (R$ 38,6 mil), com o pagamento adiantado de metade do valor. A conversa ocorreu no dia 6 de janeiro, véspera do embarque do grupo.

Reprodução/Google Street View
Posto da Polícia Rodoviária Federal de Campina Grande do sul (PR), onde coiote foi preso
Posto da Polícia Rodoviária Federal de Campina Grande do sul (PR), onde coiote foi preso

Para alguém que oferece um serviço caro e cheio de riscos, o currículo de Silva inspira pouca confiança, com passagens pela polícia no Brasil e nos EUA.

Em 27 julho de 2013, ele foi preso em Campina Grande do Sul (PR), na região metropolitana de Curitiba, durante uma viagem de ônibus interestadual.

De acordo com o boletim de ocorrência da Polícia Rodoviária Federal (PRF), o motorista do ônibus prestou queixa de que Silva havia mostrado um distintivo falso da PF para não pagar passagem e para comer de graça durante a parada num posto de gasolina da rodovia Régis Bittencourt (BR-116).

Depois de encontrar outros documentos falsificados, os policiais deram voz de prisão a Silva, levado à carceragem da Polícia Federal em Curitiba —à época, ainda não ocupada pelos presos da Operação Lava Jato.
No processo, não consta a informação de quanto tempo Silva passou ali.

Ao aceitar a denúncia contra Silva por estelionato, em dezembro de 2014, Moro escreveu que o réu "viajou de graça, buscou obter refeição gratuita e perturbou os passageiros do ônibus".

O juiz, ainda em sua fase pré-Lava Jato, registrou também que, ao ser abordado pela PRF, Silva se defendeu "dizendo aos policiais, in verbis, 'eu sou da casa!'".

Em agosto de 2015, a juíza federal substituta Gabriela Hardt condenou Silva a comparecer a cada dois meses à Comarca de Marataízes (ES), onde mora, e a pagar a quantia de R$ 4.000 no prazo de um ano.

Em 18 de agosto do ano passado, ele foi ao cartório da cidade para dizer que havia desrespeitado o prazo por ter perdido o boleto.

Foi emitido um novo documento bancário, mas, até agora, ele não pagou a multa, segundo o acompanhamento processual do caso.

Nos Estados Unidos, Silva foi condenado por roubo pela Justiça da Flórida, em 1991. Em conversa com a reportagem, ele mesmo contou que passou dez meses em uma cadeia do Estado americano.

Por não estar envolvido no caso dos 12 brasileiros desaparecidos enquanto tentavam chegar aos EUA via Bahamas, ele ficou fora do radar da Operação Piratas do Caribe, da Polícia Federal.

Na sexta-feira (13), policiais prenderam três supostos coiotes que atuariam na rota das Bahamas e cumpriram cinco mandados de busca e apreensão. A operação ocorreu em Rondônia, Minas Gerais e Santa Catarina.

A reportagem da Folha deixou recados para Silva no número de telefone usado por ele nas Bahamas, mas não houve resposta. No processo, não consta o nome do advogado de defesa dele.


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