Folha de S. Paulo


PF prende coiotes que levaram brasileiros sumidos nas Bahamas

Arquivo pessoal
Renato Soares de Araujo, de 32 anos, da cidade de Sardoa, no Vale do Rio Doce, e um dos desaparecidos Foto: Arquivo de familia/ Reproducao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Renato Soares de Araujo, mineiro de 32 anos, é um dos brasileiros desaparecidos no Caribe

Em operação contra uma quadrilha responsável por levar imigrantes brasileiros ilegalmente aos EUA, a Polícia Federal prendeu três "coiotes" e cumpriu sete mandados de busca e apreensão nos Estados de Minas Gerais, Rondônia e Santa Catarina.

Batizada de Piratas do Caribe, a ação faz parte das investigações sobre o paradeiro de 12 brasileiros desaparecidos desde o dia 6 de novembro, quando teriam partido das Bahamas rumo à costa da Flórida. Eles são de Minas Gerais, São Paulo, Pará, Paraná e Rondônia.

As autoridades das Bahamas e dos Estados Unidos informaram recentemente à PF que não há registro de sua prisão. Com isso, cresce a hipótese de que o barco que levava o grupo tenha naufragado durante o trajeto.

Até a noite desta sexta-feira (13), a PF ainda não havia localizado outros dois "coiotes", como são chamados os agenciadores dessas viagens. Os mandados de busca incluíram agências de turismo e casas particulares.

A investigação recolheu indícios de que o esquema pagava propina para funcionários de imigração no aeroporto de Nassau, capital das Bahamas, para evitar a deportação, o que configura corrupção de agentes públicos.

De avião, os grupos de imigrantes viajam juntos na data em que o acesso havia sido negociado e recebiam a orientação de passar em um guichê predeterminado, onde estaria o funcionário subornado.

Para a PF, a forma de atuação dos coiotes configura um dos tipos de organização criminosa previsto na lei 12.850: associação de quatro ou mais pessoas com o objetivo de obter vantagem por meio de infrações penais transnacionais.

INTIMIDAÇÃO

Apesar de receber diversas informações anônimas sobre a quadrilha, a PF tem enfrentado dificuldades para convencer familiares dos desaparecidos a testemunhar contra os coiotes, o que atrasou o processo de coleta de indícios e, em decorrência disso, a autorização judicial da operação.

"A primeira coisa que os coiotes fazem é ir na casa de todo mundo e conhecer a família inteira. Então é muito perigoso", disse à Folha um parente de um dos 12 desaparecidos, sob a condição do anonimato. "Não dá pra colocar nome porque a gente corre risco de morte."

Apesar de ser menos usada do que a fronteira mexicana, a rota das Bahamas ganhou destaque no final de dezembro, quando o desaparecimento do grupo de 12 brasileiros chegou à imprensa. Para a viagem, cada um teria se comprometido a pagar cerca de US$ 20 mil (R$ 64,4 mil).

O caso ocorre em um momento de crescimento do número de brasileiros que tenta emigrar aos EUA. Somente nos meses de novembro e dezembro, a Patrulha da Fronteira dos EUA prendeu uma média de 15,4 brasileiros por dia.

É um crescimento de 73% em relação à média diária do ano fiscal de 2016 americano (1° de outubro de 2015 a 30 de setembro de 2016), quando houve 8,9 prisões/dia de brasileiros cruzando ilegalmente para aos EUA. Mais de 90% desses casos ocorre perto da fronteira com o México.

Operação Piratas do Caribe


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