Folha de S. Paulo


Nomeados por Trump para defesa alertam para ameaça da Rússia

A Rússia representa uma ameaça estratégica aos interesses dos EUA, afirmaram nesta quinta-feira (12), em sabatina no Senado americano, dois dos principais nomes na área de defesa apontados pelo presidente eleito, Donald Trump.

As opiniões do general da reserva James Mattis, nomeado para ser o secretário de Defesa, e do deputado Mike Pompeo, escolhido para chefiar a CIA (Agência Central de Inteligência), contrastam com a expectativa de Trump de uma aproximação com Moscou, após anos de hostilidade.

Jonathan Ernst/Reuters
O ex-general James Mattis, indicado para o Departamento de Defesa, é sabatinado pelo Senado
O ex-general James Mattis, indicado para o Departamento de Defesa, é sabatinado pelo Senado

Em entrevista coletiva concedida na quarta, o presidente eleito havia afirmado que a suposta simpatia demonstrada por ele pelo presidente russo, Vladimir Putin, deve ser vista como uma vantagem para as relações entre as duas potências.

No depoimento aos senadores, Mattis jogou água fria nessa possibilidade. Disse que Moscou é um "competidor estratégico"dos EUA que "desperta graves preocupações em várias frentes" e defendeu uma presença militar permanente dos EUA nos países bálticos para deter a Rússia.

"Sou completamente a favor de engajamento, mas temos que reconhecer a realidade do que a Rússia quer, e há um número descrescente de áreas em que podemos cooperar", disse Mattis ao Comitê de Serviços Armados do Senado.

Num sinal de forte apoio bipartidário à nomeação de Mattis, o comitê concordou por 24 votos a três em liberar o general da reserva da quarentena de sete anos exigida por lei para que um militar assuma o posto de secretário da Defesa. Mattis passou para a reserva em 2013.

Em sua sabatina, o deputado conservador Mike Pompeo também não poupou críticas a Moscou, pela ocupação de parte da Ucrânia e pelas ameaças a aliados dos EUA na Europa.

Também acusou a Rússia de ter feito "quase nada" para destruir o Estado Islâmico, afastando-se dos elogios de Trump às ações de Moscou contra a facção terrorista.

Questionado sobre as principais ameaças aos EUA, porém, ele citou em primeiro lugar o terrorismo e colocou a Rússia atrás da Coréia do Norte e da China.

INTELIGÊNCIA

Boa parte da sabatina de Pompeo foi dedicada à tensão entre Trump e os serviços de inteligência do país, cujas investigações apontaram para atividades de Moscou durante a campanha presidencial para favorecer o presidente eleito em sua disputa com a democrata Hillary Clinton.

Em sua entrevista coletiva na quarta, Trump reconheceu que houve interferência russa na campanha da rival, mas não que ela tenha sido destinada a beneficiá-lo.

Pompeo disse que pretende ordenar uma investigação da CIA sobre interferência de Moscou. "Minha expectativa é de que o presidente eleito exigirá isso de mim", disse o deputado.

A mesma preocupação de Mattis e Pompeo com a Rússia também havia sido expressada na véspera por Rex Tillerson, nomeado por Trump para ser seu secretário de Estado (equivalente a ministro das Relações Exteriores).

Ex-executivo-chefe da gigante do petróleo ExxonMobil e com histórico de boas relações com o governo de Moscou, Tillerson disse em sua sabatina que a Rússia é "um perigo", cujas ações contrariam os interesses dos EUA.

Um outro aspecto dissonante do depoimento de Pompeo em relação ao tom usado por Trump na campanha presidencial foi sua posição contrária ao uso de tortura em prisioneiros suspeitos de terrorismo.

Durante a corrida presidencial, Trump defendeu várias vezes a retomada de práticas como o "waterboarding" (simulação de afogamento) em interrogatórios, que foram abandonadas durante o governo de Barack Obama e hoje são consideradas ilegais.

Aos senadores, Pompeo disse que a CIA não voltará a recorrer a essas práticas e ao uso de prisões secretas mesmo se receber ordens do presidente. "Absolutamente, não", prometeu.

Sobre o acordo nuclear com o Irã, assinado em 2015 pelos EUA e outras potências, os nomeados de Trump também demonstraram divergências com o chefe.

Enquanto Trump prometeu revogar a participação dos EUA ou impossibilitar a implementação do pacto, James Mattis disse que o mais prudente é manter a palavra dada e a aliança com os demais signatários.

"Acho que é um acordo de controle de armas imperfeito, não é um tratado de amizade", disse o provável secretário de Defesa de Trump. "Mas quando a América dá sua palavra, nós temos que mantê-la e trabalhar com nossos aliados".

Já Pompeo, que como membro do Congresso se opôs ao acordo destinado a limitar a capacidade nuclear iraniana em troca da retirada das sanções contra a República Islâmica, disse em sua sabatina que pretende dar tempo e recursos à CIA para monitorar o cumprimento do pacto.


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