Folha de S. Paulo


Em discurso, líder trabalhista britânico se aproxima do 'brexit'

O líder trabalhista britânico, Jeremy Corbyn, afirmou nesta terça-feira (10) que a livre circulação de trabalhadores europeus não é uma condição necessária às negociações do "brexit", a saída do Reino Unido da União Europeia.

É a primeira vez que o Partido Trabalhista, a principal oposição no país, faz tal afirmação. A movimentação dentro do bloco europeu é um dos temas mais delicados do processo de divórcio, aprovado em plebiscito em 23 de junho.

Oli Scarff - 24.set.2016/AFP
British opposition Labour Party leader Jeremy Corbyn speaks after being announced as the winner of the party's leadership contest at the Labour Party Leadership Conference in Liverpool on September 24, 2016. Left-winger Jeremy Corbyn was re-elected British Labour leader on Saturday, seeing off a challenge from his MPs but leaving the opposition party deeply divided, with its very future in question. / AFP PHOTO / OLI SCARFF
O líder trabalhista, Jeremy Corbyn, em foto de setembro de 2016

Corbyn tenta, com isso, aproximar-se dos milhões de eleitores que apoiaram o "brexit" no referendo. O Partido Trabalhista é criticado por, assim como a premiê conservadora, Theresa May, não oferecer uma visão clara sobre como será o processo.

O Partido Trabalhista é historicamente favorável à integração na União Europeia, mas foi relativamente escanteado durante as discussões do último ano em torno da saída do bloco.

Há diversas questões em aberto, para além da livre circulação de trabalhadores. Não está claro, por exemplo, se o Reino Unido permanecerá no mercado comum europeu, que hoje agrega 500 milhões de consumidores.

É improvável que o Reino Unido consiga manter-se no mercado comum se ameaçar a movimentação de pessoas. Ambos são considerados pilares da União Europeia.

O líder trabalhista afirmou, durante seu discurso na cidade de Peterborough, que seu partido apoia um controle "razoável" da migração no bloco. Peterborough votou a favor do "brexit" no referendo de junho.

A migração foi justamente um dos temas centrais durante a campanha pelo "brexit". A aprovação da saída do do bloco foi entendida pelos políticos locais, de certa maneira, como sendo um voto contrário à migração.

Em sua declaração nesta terça-feira, Corbyn rejeitou a ideia –por vezes defendida entre políticos britânicos– de repetir o referendo de junho passado.

Ele referiu-se também ao "preocupante crescimento nos crimes motivados pelo ódio e na divisão que temos visto nos últimos meses". O tema da migração, disse, é utilizado no discurso político para intimidar as minorias.

CRONOGRAMA

O processo de separação entre Reino Unido e União Europeia só terá início após a ativação do Artigo 50 do Tratado de Lisboa, que pode ocorrer até o fim de março.

A premiê May afirmou no domingo (8) que vai definir a estratégia da saída durante estas semanas. Ela vem sendo atacado pela demora em oferecer um plano claro.

O governo é, ademais, desafiado por ações na Justiça pedindo que o Artigo 50 seja acionado pelo Parlamento, e não pela primeira-ministra. A decisão dos juízes é esperada para em breve e poderia atrasar todo o cronograma.

Assim que o Artigo 50 for acionado, as negociações devem começar oficialmente e tomar cerca de dois anos. O Reino Unido poderia deixar a União Europeia, portanto, apenas em meados de 2019.


Endereço da página:

Links no texto: