Folha de S. Paulo


Morre o líder moderado do Irã Akbar Rafsanjani, presidente nos anos 1990

Morreu neste domingo (8) aos 82 anos Akbar Hashemi Rafsanjani, presidente do Irã entre 1989 e 1997, uma das principais vozes moderadas e responsável pela abertura econômica e pela modernização da República Islâmica.

Segundo a imprensa estatal, ele sofreu um ataque cardíaco e foi levado a um hospital de Teerã. Os médicos tentaram reanimá-lo por 1h30, mas ele não resistiu.

Atta Kenare - 21.dez.2015/AFP
(FILES) This file photo taken on December 21, 2015 shows Iranian former president and head of the Expediency Council, Akbar Hashemi Rafsanjani arriving for a press conference after registering his candidacy for the upcoming Assembly of Experts elections at the interior ministry in Tehran. Former Iranian president Rafsanjani dead: agencies / AFP PHOTO / ATTA KENARE ORG XMIT: AK068
Akbar Hashemi Rafsanjani, durante coletiva de imprensa em Teerã, em 2015

Considerado o pilar da Revolução Islâmica de 1979, Rafsanjani foi líder do Parlamento de 1980, um ano após a queda do xá Reza Pahlevi, a 1988. Era o segundo do regime, atrás do líder supremo, aiatolá Ruhollah Khomeini, de quem foi colaborador.

Ele se tornou presidente em uma época decisiva para o Irã. O país estava destruído e em crise financeira devido à guerra com o Iraque (1980-1988) e Khomeini havia morrido meses antes, abrindo uma disputa no regime.

Além de convencer Khomeini a selar um acordo de paz com o ditador iraquiano, Saddam Hussein, foi um dos principais apoiadores da escolha do então presidente, Ali Khamenei, para assumir a vaga de líder supremo.

Em seus oito anos de governo, recuperou a infraestrutura do país, levando estradas, energia e telecomunicações para áreas distantes, promoveu a indústria local e chegou a propor uma abertura econômica e uma relação mais aberta com o mundo.

Por outro lado, permitiu o aumento da influência da Guarda Revolucionária (Forças Armadas) sobre a economia e aprofundou as relações com o movimento radical libanês Hizbullah e o grupo palestino Hamas.

Isso fez com que ele fosse acusado de envolvimento em atentados contra judeus e tivesse sua captura internacional pedida pela Argentina por envolvimento no atentado terrorista a uma entidade judaica em Buenos Aires, que deixou 85 mortos em 1994.

INFLUENCIADOR

Ao sair do poder, porém, continuou a ser um dos principais influenciadores do regime. Foi uma das lideranças da oposição ao conservador Mahmoud Ahmadinejad (2005-2013), para quem perdeu a eleição de 2005.

No pleito seguinte, apoiou o moderado Hossein Mousavi contra a reeleição de Ahmadinejad. Após a vitória do conservador, deu seu apoio ao movimento que contestou os resultados eleitorais nos oito meses de protestos violentos e repressão.

Ele chegou a pedir ao governo conservador que aumentasse a liberdade de imprensa e libertasse presos políticos, para a ira da linha dura, que tentou minimizá-lo nos anos seguintes.

Em 2013 tentou voltar à Presidência, mas foi impedido pela cúpula da República Islâmica sob a alegação de que era muito velho. Acabou apoiando o moderado Hassan Rowhani, que foi eleito.

Dessa forma, tornou-se um participante do atual governo, colocando em prática a reaproximação com os EUA, impedida pela linha dura nos anos em que foi presidente.

Analistas consideram-o um dos principais mentores do acordo nuclear com as potências e de ter convencido Khamenei a apoiar o pacto, embora o ex-presidente nunca tenha tido sua confiança.

Em sua primeira reação, o líder supremo lamentou a morte de "um companheiro de luta", mas marcou as diferenças políticas entre os dois.

"As diferentes opiniões e interpretações ao longo deste extenso período nunca puderam quebrar totalmente nossa amizade", disse.

A morte de Rafsanjani significa uma grande perda para os moderados. Além do risco de um conservador ser nomeado para um dos principais conselhos do regime, Rowhani perde um grande apoio para as eleições presidenciais de maio.

"A morte dele não poderia ter vindo no pior momento", disse a especialista americana Trita Parsi. "Ele não só era um dos pilares do governo, mas uma força chave em favor da melhora das relações com os Estados Unidos, o Ocidente e a Arábia Saudita."


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