Folha de S. Paulo


Guerra da Síria deixa população de Damasco sem água potável

Para milhões de moradores de Damasco, temores duradouros sobre a direção da guerra na Síria foram substituídos por preocupações sobre onde conseguir água para lavar os pratos e roupas ou tomar banho.

Há quase duas semanas a capital síria e seus arredores estão afetados por uma crise hídrica que deixou as torneiras secas, causou longas filas junto aos poços e obrigou as pessoas a poupar os poucos recursos que encontram.

Louai Beshara - 3.jan.2017/AFP
Syrians fill plastic containers with water at a public fountain in the capital Damascus on January 3, 2017. The regime of President Bashar al-Assad is trying to seize control of the region which supplies the main drinking water for four million inhabitants of the capital and surrounding areas. / AFP PHOTO / LOUAI BESHARA ORG XMIT: DAM1227
Moradores de Damasco transportam galões de água captada de fontes públicas

"Quando o mundo fica duro para nós, damos um jeito", disse uma mulher em um vídeo postado no Facebook mostrando como ela usou uma garrafa de refrigerante adaptada para lavar xícaras de chá.

Como a maioria dos problemas da Síria, a crise da água em Damasco é um sintoma da guerra, que já matou centenas de milhares de pessoas, deslocou aproximadamente a metade da população do país antes da guerra (cerca de 22 milhões) e deixou seu território dividido em zonas controladas pelo governo, por rebeldes armados e por grupos radicais.

Um cessar-fogo mediado pela Rússia e a Turquia e anunciado na semana passada reduziu a violência em geral no país, mas não impediu as batalhas em outros locais, nem resolveu o que acontece quando os recursos necessários para um lado são controlados por seus inimigos, como parece ser o caso da água em Damasco.

Historicamente, a maior parte da água que abastece a capital, que é controlada pelo regime do ditador Bashar al-Assad, vem do vale do Barada, ao norte da cidade, que é controlado pelos rebeldes que querem depor Assad.

Editoria de Arte/Folhapress
Damasco

A crise começou em 22 de dezembro, quando a água parou de correr. Cada lado acusou o outro de danificar a infraestrutura perto da fonte, interrompendo o fluxo.

Ativistas opositores publicaram na internet fotos que supostamente mostram estruturas em torno da fonte que, segundo eles, foram danificadas por bombas despejadas por helicópteros do regime. O regime primeiro acusou os rebeldes de poluir a água, depois de danificar a infraestrutura.

Jens Laerke, um porta-voz do escritório humanitário da ONU (Organização das Nações Unidas) em Genebra, disse por e-mail na terça-feira (3) que "o ataque deliberado à infraestrutura hídrica" causou a interrupção. "Mas não estamos em posição de dizer quem o praticou", disse ele.

Tradução de LUIS ROBERTO M. GONÇALVES


Endereço da página:

Links no texto: