O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, disse nesta quarta-feira (28) que a abstenção do seu país em votação nas Nações Unidas sobre os assentamentos judaicos em território palestino foi para preservar a possibilidade de uma solução de dois Estados para a região.
Os EUA agiram "de acordo com nossos valores", disse Kerry, que frisou que Israel é um aliado do seu país. O secretário afirmou que os EUA não podem ficar em silêncio enquanto veem a possibilidade de paz na região fugir.
Kerry também afirmou que os EUA "não escreveram nem originaram" a resolução aprovada na ONU, respondendo a críticas de Israel. A resolução afirma que os assentamentos israelenses na Cisjordânia e a leste de Jerusalém violam leis internacionais.
Em discurso semanas antes de o governo Obama dar lugar ao governo do presidente eleito Donal Trump, Kerry disse que "apesar de nossos esforços por vários anos, a solução de dois Estados está agora ameaçada".
Para o secretário, se Israel rejeitar uma solução de dois Estados, o país "pode ser judaico ou pode ser democrático, não pode ser as duas coisas, e não estará nunca realmente em paz".
"A verdade é que tendências locais –violência, terrorismo, incitação, expansão de assentamentos e ocupação aparentemente sem fim– estão destruindo a esperança de paz dos dois lados e cimentando uma realidade irreversível de um só Estado, que a maioria das pessoas não quer", disse ele.
É improvável que o discurso de Kerry resulte em mudanças práticas nas relações entre Israel e palestinos, ponto em que a política externa durante o governo Obama não avançou.
Sem citá-lo diretamente, Kerry também respondeu a críticas de Trump ao voto dos EUA, dizendo que em outros governos americanos recentes, inclusive republicanos, os EUA também se abstiveram em votações de resoluções críticas a Israel na ONU.
Trump disse no Twitter nesta quarta (28) que "não podemos deixar Israel ser tratado com total desdém e desrespeito", afirmando que o país era "um grande amigo" dos EUA.
CRÍTICAS AOS DOIS LADOS
O secretário de Estado dos EUA também fez críticas ao primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, questionando seu compromisso com a criação de um Estado palestino e dizendo que seu governo é o que está mais à direita na história de Israel.
Kerry respondeu a argumentos usados por Israel para defender os assentamentos, dizendo que "a agenda dos assentados está definindo o futuro de Israel" e alertando sobre o risco de uma ocupação permanente de territórios palestinos, comparando-os à política de segregação racial que vigorou nos EUA. "Você teria uma situação de separados e desiguais, e ninguém consegue explicar como isso funciona", disse ele.
O discurso teve críticas ao lado palestino também, acusando líderes de "incitar violência".
CONSELHO DE SEGURANÇA
O Conselho de Segurança da ONU aprovou na sexta (23) uma resolução que condena a colonização israelense em territórios palestinos. O texto afirma que os assentamentos judaicos não têm validade legal e exige que Israel ponha fim à construção de novas colônias.
A aprovação só foi possível graças à posição inédita dos Estados Unidos, aliados históricos de Israel, que se abstiveram na votação. Por serem um dos membros permanentes do conselho, juntamente com China, Rússia, Reino Unido e França, os americanos têm poder de veto.
Essa é a primeira resolução que o Conselho de Segurança adota em relação às questões Israel-Palestina em quase oito anos.
Comemorada pelo líder palestino Mahmoud Abbas, a resolução foi condenada pelo governo israelense.
"Israel rejeita esta vergonhosa resolução anti-israelense na ONU e não vai tolerar seus termos", disse um comunicado emitido pelo gabinete do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu.
A atitude da diplomacia americana foi duramente criticada pelas autoridades israelenses. Um ministro chegou a dizer que os Estados Unidos haviam "abandonado seu único amigo no Oriente Médio".
ASSENTAMENTOS
A Prefeitura de Jerusalém cancelou uma votação nesta quarta-feira (28) sobre a construção de cerca de 500 novas casas para israelenses na parte oriental da cidade, em tese administrada pelos palestinos.
A proposta de construção de casas em Jerusalém Oriental é parte do plano de assentamentos condenado pelo Conselho de Segurança da ONU na semana passada.
Aproximadamente 570 mil israelenses vivem na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, em meio a 2,6 milhões de palestinos.