Folha de S. Paulo


Para analista americano, popularidade de Putin será dissipada com a crise

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George Friedman, diretor do centro de previsões estratégicas da Geopolitical Futures
George Friedman, diretor do centro de previsões estratégicas da Geopolitical Futures

Para George Friedman, 67, que dirige o centro de previsões estratégicas Geopolitical Futures e foi fundador da famosa Stratfor, o Ocidente superestima o poder de Vladimir Putin.
Segundo ele, o russo joga muito bem com o medo que consegue impingir, sem necessariamente ter capacidades de ir além da retórica. Em sua visão, a Rússia já está em declínio, o que não a torna menos perigosa geopoliticamente.

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Folha - O sr. crê que Putin terá sucesso em consolidar as zonas tampão em torno de suas fronteiras ou até ir além, mesmo que a sua União Eurasiana pareça ilusória?
George Friedman - Eu acho que já há o tampão. A Ucrânia é um conflito congelado, o Ocidente tem pouco envolvimento militar e os russos têm limitado o que os rebeldes no leste ucraniano podem fazer.
Sobre a União Eurasiana, a união de aleijados ainda é aleijada. A crise dos preços da energia atingiu toda a Ásia Central, assim como a Rússia.

Os eventos recentes, da eleição de Donald Trump nos EUA à emergência de nacionalismos na Europa, parecem se encaixar na narrativa russa. Assim, estamos diante de uma janela de oportunidade para Putin, enquanto ele tenta achar um indicado para sucedê-lo em 2018 _se não ele mesmo ao fim?
Vemos a reemergência de nacionalismo em todas suas formas. Mas qualquer popularidade que Putin tenha vai esvair-se com a crise.

O sr. já comparou a Rússia a Esparta, como um adversário menos forte do que a Atenas à época, mas que pôde ganhar a disputa. O fato de a Rússia estar quebrando e com muitas limitações militares a faz mais perigosa? Se o sr. fosse um estoniano o letão étnico, o quão estaria preocupado com a ideia de que a Otan sob Trump possa não defendê-lo?
A Rússia ainda tem algum poder militar, mas não isso não pode ser superestimado. Claro, na Letônia isso seria suficiente. Mas os americanos estão lá, e o desejo russo de enfrentá-los diretamente é limitado. Invadindo e sendo derrotado é o pior cenário possível.

Enquanto é ilógico pensar numa guerra total, há potências regionais surgindo exatamente nas franjas da esfera russa, como a Turquia e a Polônia. Há chance de confronto futuro?
Se consideramos que a Rússia está enfrentando a mesma crise que a União Soviética enfrentou, então temos de estar abertos para pensar no fracasso da Federação da Rússia. Assim, os países na periferia assumiriam um papel maior. A Turquia emerge claramente, assim como a Polônia. Logo, como ocorreu no meio do século 20, haverá uma rotação entre as grandes potências. Como o Reino Unido declinou, a Alemanha e o Japão entraram em colapso. Isso é normal.

O quanto o Ocidente é culpado pela retórica russa?
Retórica é retórica. É usada para influenciar a opinião estrangeira e doméstica, e para ameaçar é preciso ter com que ameaçar. A Rússia vem ameaçando desde a mudança no regime ucraniano [em 2014], mas foi isso que fez e já tem um tempo.


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