Folha de S. Paulo


Rebeldes sírios chegam a acordo com Assad para deixar Aleppo

Rebeldes sírios afirmaram nesta terça-feira (13) ter chegado a um acordo com o regime de Bashar al-Assad para abandonar as áreas de Aleppo sitiadas há meses.

Eles devem fugir para as regiões ao oeste controladas pela oposição. Encerra-se, assim, o longo embate pela cidade, um dos símbolos da guerra civil iniciada em 2011.

Os detalhes do acordo, mediado pela Turquia e ainda não confirmado pelo Exército sírio, não estão claros. Mas espera-se que milhares de moradores possam deixar a cidade nesta noite, começando pelos feridos.

Os avanços do Exército sírio foram acompanhados por diversas denúncias de violações aos direitos humanos.

As Nações Unidas afirmaram ter recebido relatos de que uma milícia iraquiana aliada ao regime do ditador Bashar al-Assad matou ao menos 82 civis, incluindo 11 mulheres e 13 crianças, ao entrar em uma área rebelde.

Rupert Colville, porta-voz da ONU para direitos humanos, descreveu a área sob o controle da oposição como uma região "infernal", submetida aos bombardeios.

As Nações Unidas afirmaram, também, que mais de cem crianças desacompanhadas estavam presas em uma construção alvejada.

REFÚGIO

Milhares de pessoas deixaram a região rebelde nos últimos dias, entre os bombardeios. O clima frio e chuvoso dificultou a fuga.

A saída dos moradores foi registrada pela TV estatal síria. Centenas de deslocados protegiam-se da chuva, carregando os seus pertences.

Editoria de Arte/Folhapress
RETOMADA DE ALEPPO Exército sírio avança sobre áreas rebeldes na cidade

Teme-se que os civis que escaparem de Aleppo possam ser aprisionados pelo regime ou refugiados na província de Idlib, provavelmente uma das próximas regiões atacadas pelo Exército sírio.

Zeid Ra'ad Al Hussein, chefe de direitos humanos da ONU, afirmou em uma nota que "o fim deste cruel conflito" não está próximo.

"O que está acontecendo em Aleppo pode se repetir em Raqqa, em Idlib. Não podemos deixar que continue."

COLAPSO

A derrota da oposição em Aleppo ocorre após semanas de intenso ataque com auxílio do governo russo de Vladimir Putin, apesar da condenação internacional.

Bombardeados e impedidos de receber suprimentos, os serviços médicos e de resgate entraram em colapso.

A União Europeia afirmou que não irá financiar a reconstrução da Síria após a guerra caso Damasco e Moscou não deixem espaço para uma oposição real ao regime.

O bloco europeu estuda incrementar as sanções contra a Síria, mas por ora não deve aumentar os bloqueios impostos à Rússia, principal aliada do regime de Assad.

Ter o controle de Aleppo será a maior vitória do regime sírio desde o início do conflito civil, em março de 2011. Aleppo era, àquela época, a maior cidade do país.

Mas a tomada da cidade também atesta a dependência do ditador Assad em relação a apoios externos, como a Rússia e o Irã, sem os quais não teria avançado.

Assad busca, agora, consolidar seu poder na região conhecida como "Síria útil": Damasco, Aleppo, a costa e as principais estradas.

É o território que pode ajudar a sustentar o regime. Por isso a prioridade em relação às regiões desérticas, de menor relevância estratégica.

Após Aleppo, só restarão duas importantes áreas urbanas fora do controle do regime de Assad: Raqqa e Idlib.

Raqqa, no centro do país, é a auto-proclamada capital da organização terrorista Estado Islâmico. Idlib, no noroeste, é bastião da Jabhat Fateh al-Sham (a antiga Jabhat al-Nusra), milícia radical ligada à rede Al Qaeda.

O Estado Islâmico avançou durante esta semana e retomou o deserto de Palmira, uma das regiões arqueológicas mais importantes da Síria. A organização terrorista tem sido expulsa, por outro lado, de Mossul, a sua principal fortaleza no Iraque.


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