Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Ministério de Trump supera o pior pesadelo dos democratas

Muita gente apostava que Donald Trump iria se "normalizar" após a eleição e fazer um governo de centro, depois de uma campanha eleitoral cheia de promessas extremas. Mas, aparentemente, não haverá estelionato eleitoral. O ministério do republicano ratifica todos os maiores medos dos eleitores democratas.

Nas pastas do Meio Ambiente, do Trabalho e da Saúde, ele colocou raposas para cuidar do galinheiro.

Depois de uma edificante conversa com o ex-vice-presidente e ambientalista Al Gore, Trump escolheu o melhor amigo da indústria do petróleo para cuidar da Agência de Proteção Ambiental –o secretário de justiça de Oklahoma, Scott Pruitt.

Mike Segar/Reuters
Presidente eleito Donald Trump fala durante evento em Michigan
Presidente eleito Donald Trump fala durante evento em Michigan

Pruitt costumava enviar cartas ao governo reclamando das estimativas "exageradas" da poluição causada pelas perfurações de gás e petróleo. Descobriu-se que, na realidade, as cartas eram escritas pelos lobistas de uma grande indústria petrolífera. Ele se opôs a medidas de redução de emissões de ozônio e de mercúrio e afirmou que a contribuição humana para o aquecimento global "ainda está sujeita a discussões".

O senador Jim Inhoffe –autor de um livro sobre aquecimento global chamado "A grande fraude"– comemorou a nomeação. "Pruitt tem sido um líder em questões ecológicas e lutou contra regulações ambientais inconstitucionais e exageradas, como o plano de energia limpa".

Trump deve nomear a deputada republicana Cathy McMorris Rodgers para liderar o Departamento do Interior, encarregado de proteger os parques nacionais, reservas indígenas e áreas públicas do país. Mais boas notícias para a indústria: Rodgers é forte defensora da abertura de reservas para mineração e exploração de gás e petróleo.

Andy Puzder, escolhido por Donald Trump para o Ministério do Trabalho, é dono de uma cadeia de restaurantes fast-food e se opõe à elevação do salário mínimo e a novas regras para garantir que os funcionários recebam por horas extras.

O senador e cirurgião ortopédico Tom Price, que vai capitanear o Departamento de Saúde, passou anos lutando contra regulamentações do governo sobre a atuação dos médicos. Ele se opôs também à expansão do seguro de saúde do governo para crianças, porque elas já tinham plano de saúde privado e poderiam ter acesso à "medicina socialista do governo."

Andy Borowitz, o colunista satírico da revista New Yorker, brincou que o traficante de drogas mexicano Joaquín Guzmán, o "El Chapo," será nomeado para o Departamento de Combate às Drogas.

O homem que ganhou as eleições como salvador da classe média trabalhadora e empobrecida preencheu os departamentos de Comércio, Educação e Pequenas Empresas com bilionários conhecidos seus.

No departamento de pequenas empresas, estará Linda McMahon (US$ 1,16 bulhão), fundadora da World Wrestling Federation, que promove campeonatos de luta livre, claramente relacionados com as agruras dos pequenos empresários.

No departamento de Comércio, pôs o bilionário Wilbur Ross (US$ 2,9 bilhões), que fez sua fortuna com private equity e promete não decepcionar os protecionistas: "Trump vai usar todos os meios possíveis, inclusive tarifas, para defender os empregos da indústria americana."

A filantropa Betsy DeVos (US$ 5,1 bilhões), que provoca arrepios nos sindicatos de professores por causa de sua oposição a escolas públicas, será a titular do Departamento de Educação.

"No meu ministério, quero pessoas que fizeram fortuna; no meu ministério estarão as pessoas mais bem-sucedidas do mundo para negociar", disse Trump na sexta-feira (9), justificando o alto patrimônio líquido de seus indicados.

Falta mencionar escolhas arriscadas como a do general reformado Michael Flynn para o cargo de assessor de segurança nacional (aquele que advertiu para o perigo da disseminação da lei islâmica nos EUA e cujo filho espalhava notícias falsas).

Trump terá o ministério com maior concentração de militares desde a Segunda Guerra Mundial –três generais aposentados e potencialmente mais um para secretário de Estado, um ministro da Justiça que foi capitão do Exército e um diretor da CIA que foi oficial do Exército.

Como já tuitou Trump, "Que Deus tenha piedade dos meus inimigos, porque eu não vou ter", frase atribuída a um dos maiores ídolos do presidente eleito, o general George S. Patton, da Segunda Guerra Mundial.


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