Folha de S. Paulo


Presidente colombiano recebe Nobel da Paz e pede fim de conflitos

Haakon Mosvold Larsen/AFP
Nobel Peace Prize laureate Colombian President Juan Manuel Santos pose with the medal and diploma during the Peace Prize awarding ceremony at the City Hall in Oslo on December 10, 2016. President Juan Manuel Santos receives this year's Nobel Peace Prize for his efforts to bring Colombias more than 50-year-long civil war to an end. / AFP PHOTO / NTB Scanpix / Haakon Mosvold Larsen / Norway OUT
Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, recebe Nobel da Paz

Ao receber o prêmio Nobel da Paz neste sábado (10), o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, disse que o acordo de paz assinado com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) é um "raio de esperança" para a resolução de conflitos no resto do mundo.

"Com este acordo, a América é uma zona de paz do Alasca à Patagônia. E, se a guerra pode acabar em um hemisfério, por que não pode acabar nos dois?", disse, citando conflitos no Oriente Médio e na África como exemplos que devem se inspirar na Colômbia.

Em seu discurso, Santos ainda citou a letra de "Blowing in the Wind" do cantor Bob Dylan, vencedor do Nobel de Literatura deste ano.

"Quantas mortes serão necessárias até que se saiba que pessoas demais já morreram? The answer, my friend, is blowing in the wind", disse, mudando do espanhol para o inglês.

O papel de Juan Manuel Santos nas negociações de paz com as Farc foi o motivo pelo qual ele foi escolhido pelo comitê do Nobel. Aprovado pelo Congresso do país na semana passada, o documento encerra oficialmente um conflito de 52 anos que deixou mais de 250 mil vítimas.

"Seis anos atrás nós, colombianos, não conseguíamos imaginar o fim de uma guerra que durava meio século. Por razões óbvias, parecia um sonho impossível. Depois das negociações, posso anunciar com humildade e gratidão que a Colômbia está fazendo do impossível, possível", disse.

VÍTIMAS

Durante a cerimônia, Santos pediu para que vítimas do conflito presentes na plateia se levantassem e fossem aplaudidos. Entre elas estava Ingrid Betancourt, ex-candidata presidencial que ficou sequestrada pela guerrilha de 2002 a 2008.

Ao homenagear as vítimas, o colombiano criticou sutilmente opositores do acordo, entre os quais está o ex-presidente Álvaro Uribe.

"Enquanto muitos que não sofreram a guerra na carne resistem à paz, são as vítimas as mais dispostas a perdoar e enfrentar o futuro com um coração aberto", disse.

Em sua fala, Santos ainda destacou o papel do prêmio Nobel no processo de paz.

O anúncio de que fora escolhido pelo comitê foi feito em outubro, dias depois que a população colombiana rejeitou em plebiscito uma primeira versão o acordo.

"Não havia passado quatro dias [do plesbicito malsucedido] quando o comitê fez o anúncio. Em um momento em que o nosso barco parecia à deriva, o Nobel foi o vento de popa que nos empurrou para o nosso destino, o Porto da Paz", disse.

Após a rejeição do acordo pela população, Santos aceitou algumas mudanças exigidas pelos opositores da primeira versão e submeteu um novo documento ao Congresso, mas descartou realizar um novo plebiscito.

Entre outros pontos, o acordo prevê que as Farc entreguem suas armas, indenizem vítimas, cortem ligações com o narcotráfico e sejam punidas por crimes graves.

Em compensação, permite que membros da guerrilha tenham cadeiras fixas no Congresso e recebam anistia para alguns crimes.

Primeiro colombiano a receber o Nobel da Paz, Santos recebeu uma medalha de ouro, um diploma e aproximadamente R$ 2,95 milhões, que segundo ele, serão doados.


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