Folha de S. Paulo


Autoridades israelenses já tentam estreitar laços com Donald Trump

Ansioso em relação a uma administração americana que pode ser mais favorável a suas políticas, o governo israelense já tem se aproximado de Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos.

Naftali Bennett, ministro da Educação, reuniu-se com três membros da equipe do republicano no domingo (20), segundo a imprensa israelense. Ele pediu que Trump não se apresse em adotar uma solução de dois Estados para o conflito entre israelenses e palestinos.

Ele propôs também uma alternativa em que Israel anexaria partes da Cisjordânia, ocupada em 1967 durante a Guerra dos Seis Dias. Um jornal israelense diz que a equipe de Trump tomou nota para repassar essa ideia adiante.

Bennett estava em Nova York participando de um evento sobre a diáspora judaica.

O ministro israelense havia celebrado a vitória do republicano em 9 de novembro afirmando que era "uma tremenda oportunidade" para Israel negar o estabelecimento de um Estado palestino. "A era do Estado palestino acabou."

A fala coincidiu com a de Ayelet Shaked, ministra da Justiça, que também comemorou a eleição de Trump.

Especula-se que essa tenha sido a razão para que Binyamin Netanyahu, premiê israelense, tenha orientado seu gabinete na segunda-feira (21) e não manter contato direto com o time do republicano -que só assume o cargo em janeiro.

Bennett não havia, ademais, sido o único ministro de Netanyahu a se aproximar da equipe de Trump. Uri Ariel, da Agricultura, enviou na sexta-feira (18) uma carta para Stephen Bannon, nomeado estrategista-chefe do novo governo.

Na carta, o ministro agradeceu a oposição de Bannon ao acordo nuclear travado com o Irã em 2015 e ao boicote contra Israel.

A nomeação do estrategista-chefe é criticada nos EUA. Considerado racista e antissemita, Bannon foi presidente da página de notícias de extrema-direita Breitbart, popular entre supremacistas.

IMPACTO
Não há informações concretas sobre qual será a abordagem de Trump em relação ao Oriente Médio. Ele não tem experiência em política externa e, por ora, os cenários são especulações.

Mas Netanyahu e Barack Obama não têm uma boa relação, e Israel pode, assim, se beneficiar da nova administração. Obama foi uma vez flagrado criticando Netanyahu com o então presidente francês Nicolas Sarkozy.

Há uma série de áreas em que decisões do governo americano têm impacto real em Israel.

Por exemplo, existe uma constante pressão para que os EUA transfiram sua embaixada a Jerusalém, em um gesto simbólico que reconheceria a cidade como capital. As embaixadas, inclusive a brasileira, estão em Tel Aviv.

Também seria importante para Israel que os EUA aceitassem alguns de seus blocos de assentamentos na Cisjordânia e deixassem de se opor à construção deles.

Por fim, o governo americano tem um papel central no debate para a paz entre israelenses e palestinos. Por isso a sugestão de Bennett de que Trump não adote uma solução de dois Estados, em que o Estado palestino seria reconhecido ao lado de Israel.


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