Folha de S. Paulo


Trump indica 3 nomes controversos para gabinete, inclusive para Justiça

O gabinete de Donald Trump incluirá um senador acusado de fazer piadas pró-Ku Klux Klan, um deputado que pede expansão de programas de espionagem e um militar que já defendeu que "temer muçulmanos é racional".

O presidente eleito anunciou na sexta (18) três nomeações: o senador Jeff Sessions, do Alabama, será secretário de Justiça, o general reformado Michael Flynn, conselheiro de segurança nacional, e o deputado Mike Pompeo, do Kansas, diretor da CIA (agência de inteligência).

David Duke, ex-deputado e ex-líder do KKK, comemorou. Para ele, Sessions e Flynn formarão um belo trio com o estrategista-chefe do novo governo, Stephen Bannon, que comandava o Breitbart, site querido por supremacistas. "Ótimo! O Senado deve cobrar que Sessions impeça a maciça discriminação institucional contra os brancos."

O senador até hoje é criticado por supostos comentários racistas do passado. Há 30 anos, o Senado o vetou para um cargo de juiz federal. Em sabatina, foi cobrado por ter rotular entidades pró-direitos civis de "antiamericanas". Um promotor negro que foi seu subordinado disse que Sessions o chamou várias vezes de "boy" (tratamento para inferiorizar negros).

Ele também brincou sobre o KKK: achava "ok" os supremacistas que já enforcaram negros, "até saberem que eles fumavam maconha". Sessions sempre negou as alegações. "Não sou insensível aos negros", disse à época.

Frequente na lista de senadores mais conservadores, Sessions também é conhecido pela posição linha-dura sobre imigração. Em 2014, a revista "National Review" o definiu como "o pior inimigo da anistia", pela oposição a projetos de lei para regularizar imigrantes ilegais nos EUA (cerca de 11 milhões).

Mesmo estrangeiros em situação legal não são bem-vindos. Em 2015, Sessions divulgou manifesto em que tratava como "farsa" a ideia de que cérebros de outros países oxigenam o Vale do Silício.

Para ele, imigrantes são trazidos "com o propósito explícito de roubar empregos" americanos. O senador cita Bill Gates, que assinou artigo defendendo mão de obra internacional na mesma semana em que sua Microsoft dispensou 18 mil funcionários.

ISLÃ

Outra escolha controversa de Trump é Michael Flynn, que já tachou o Islã de "ideologia política".

Como conselheiro de segurança nacional, ele sucederá nomes como Colin Powell e Condoleezza Rice e supervisionará cerca de 400 pessoas.

Registrado como democrata, o general chefiou a Agência de Inteligência de Defesa no governo atual (2012-2014) —foi contemporâneo a Hillary Clinton, então secretária de Estado de Barack Obama.

Demitido por Obama, Flynn virou um dos partidários mais leais a Trump. Em julho, lançou um livro em que dá sua versão para a dispensa: em 2014, ele falou que a ameaça do terrorismo islâmico estava em ascensão. O governo defendia o contrário.

O general já enfureceu o Council of American-Islamic Relations, que pediu a Trump para se aliar a alguém "que não defenda visões tão preconceituosas".

Trump e Flynn convergem na antipatia a muçulmanos e na simpatia por Vladimir Putin. Em dezembro, o general se sentou próximo ao líder russo, num jantar de gala da RT, TV pró-Moscou para a qual faz participações especiais.

Mike Pompeo, expoente do movimento ultraconservador Tea Party, completa a trinca de indicados. Há anos ele zela pela expansão de programas de vigilância, como as espionagens tocadas pela NSA (agência de segurança nacional) e expostas por Edward Snowden em 2013.

Em janeiro, ele escreveu no "Wall Street Journal" uma defesa à coleta, pelo governo, de dados privados. "Os terroristas de San Bernardino não foram vigiados, apesar de repetidas visitas a sites jihadistas e posts em mídias sociais", disse, em referência ao atentado de 2015 que matou 14.

MITT ROMNEY

No fim de semana, o presidente se encontrará com o ex-presidenciável Mitt Romney. Um dos líderes do movimento "Trump Jamais", ele estaria sendo cotado como secretário de Estado, num aceno ao establishment republicano.

Sobre o empresário, Romney já declarou: "Suas palavras valem tanto quanto um diploma da Universidade Trump [acusada de fraude]".


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