Folha de S. Paulo


Nas redes, mentiras sobre pleito nos EUA superam notícias reais

Na reta final da campanha eleitoral nos EUA, os usuários de redes sociais se engajaram mais com notícias falsas sobre o pleito do que com reportagens reais de veículos de comunicação. Esta é a conclusão de um levantamento publicado nesta semana.

Segundo o estudo realizado pelo portal BuzzFeed, as vinte notícias falsas sobre a eleição americana com maior engajamento no Facebook nos três meses que antecederam a eleição geraram 8,7 milhões de curtidas, comentários e compartilhamentos. Esse número supera os 7,3 milhões de engajamentos com as vinte notícias reais de maior performance na rede social de grandes jornais e emissoras, como "The New York Times", "Washington Post" e CNN.

A performance das reportagens falsas melhorou durante os meses que antecederam as eleições. Antes, o engajamento com notícias de grandes veículos era maior.

O levantamento revela a potencial influência das redes sociais nos resultados eleitorais, um tema que ganhou destaque após a inesperada vitória de Donald Trump na corrida pela Casa Branca. A maior parte das notícias falsas de forte desempenho nas redes era favorável ao republicano.

Após as eleições nos EUA, o Facebook foi acusado de ter favorecido Trump por não ter filtrado notícias falsas sobre a principal rival dele, a democrata Hillary Clinton.

Na semana passada, o criador do Facebook, Mark Zuckeberg, rebateu as críticas, dizendo ser "loucura" pensar que notícias falsas no Facebook influenciem eleições. Mais tarde, Zuckerberg afirmou que a rede social conta com mecanismos de denúncia de notícias falsas e que devem ser pensadas novas ferramentas para filtrar o conteúdo publicado no site.

Para fazer o levantamento, o BuzzFeed estudou o engajamento no Facebook com as notícias falsas e verdadeiras de maior performance na rede social. Ao portal, um porta-voz do Facebook disse que as notícias de maior desempenho "são apenas uma pequena fração" das interações dos usuários no site.

PÓS-VERDADE

O forte desempenho de notícias falsas nas redes sociais demonstra uma tendência, apontada por analistas, de emoções terem mais influência sobre a opinião pública do que os fatos.

O fenômeno foi chamado de "pós-verdade", termo escolhido pelo dicionário Oxford como a palavra do ano devido à eleição de Trump nos EUA e ao plebiscito que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia (o "brexit").

Paul Horner, dono de portais de notícias falsas, disse ao "Washington Post" acreditar ter sido responsável pela vitória eleitoral de Trump.

"Os seguidores dele [Trump] não conferem fatos —eles compartilham tudo, acreditam em tudo", afirmou.

O empresário disse, ademais, ganhar US$ 10 mil (R$ 34 mil) por mês com publicidade em seus sites.

Facebook e Google anunciaram recentemente que bloquearão a venda de anúncios para sites que divulgarem notícias falsas.


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