Folha de S. Paulo


Putin retira a Rússia do Tribunal Penal Internacional

A Rússia retirou nesta quarta-feira (16) sua assinatura do texto que dá base ao Tribunal Penal Internacional, responsável por julgar acusações como genocídio e crimes contra a humanidade.

O gesto é simbólico, pois o país nunca havia ratificado o tratado, assinado em 2000, não estando portanto sujeito à jurisdição desse tribunal.

Mas a decisão de Vladimir Putin, presidente russo, deve causar ainda mais atrito às suas relações com os EUA e a União Europeia. Barack Obama, presidente americano, reúne-se nesta quinta-feira (17) com seus aliados europeus em Berlim.

Vyacheslav Oseledko/AFP
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, fala durante evento, em setembro
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, fala durante evento, em setembro

O TPI, sediado em Haia, havia criticado a Rússia nesta semana devido à controversa anexação da Crimeia em 2014, condenada por líderes europeus. O território pertencia antes à Ucrânia.

O tribunal publicou um relatório em que considerava a anexação da Crimeia como um ato de ocupação russo.

A situação, de acordo com o TPI, "é equivalente a um conflito internacional armado entre a Ucrânia e a federação russa". A Rússia teria, assim, "utilizado membros de suas forças armadas para tomar o controle de partes do território da Ucrânia".

Dmitri Peskov, porta-voz de Putin, afirmou que o relatório do TPI é "absolutamente contrário à realidade".

A Rússia diz que a Crimeia uniu-se voluntariamente à Rússia após um referendo, mas observadores internacionais contestam que o voto foi organizado às pressas e não seguiu os padrões necessários.

O governo russo, também criticado devido à guerra em 2008 com a Geórgia, afirmou não reconhecer que o tribunal seja um órgão genuinamente independente de justiça internacional.

SÍRIA

A Rússia está, ainda, envolvida nos controversos ataques aéreos contra a cidade síria de Aleppo. Organizações humanitárias pedem repetidamente que esses bombardeios sejam investigados como crimes de guerra.

Putin participa da ofensiva em Aleppo para ajudar seu aliado, o ditador sírio Bashar al-Assad, a retomar o controle da cidade. A União Europeia e os EUA se opõem à ação russa nessa região.

Após um cessar-fogo temporário, os ataques contra Aleppo foram recentemente retomados. Organizações humanitárias locais dizem que hospitais foram atingidos.

A Rússia nega ter participado da retomada dos bombardeios em Aleppo, mas afirma ter disparado mísseis a outras províncias sírias a partir de seu porta-aviões Almirante Kuznetsov, transportado durante as últimas semanas até a costa da Síria.

Analistas temem que o recente deslocamento naval da Rússia signifique que o país esteja se preparando para apoiar uma ofensiva militar final para derrotar os rebeldes armados em Aleppo. A ação causaria um grave dano entre a população civil e debilitaria ainda mais a estrutura da cidade.

LEGITIMIDADE

O Tribunal Penal Internacional foi fundado pelo Estatuto de Roma, em 1998, e entrou em funcionamento em 2002. O órgão é criticado por nações africanas, que acusam o TPI de concentrar seu trabalho no continente.

Em protesto, países como a África do Sul e a Gâmbia anunciaram sua intenção de também deixar o tribunal.

O TPI é contestado, ademais, pela falta de reconhecimento internacional. Os EUA, a Índia e a China tampouco ratificaram o estatuto que fundou esse tribunal.


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