Folha de S. Paulo


Reino Unido não tem estratégia para sair da UE, diz documento vazado

O Reino Unido não tem uma estratégia definida para deixar a União Europeia e divisões no gabinete da primeira-ministra Theresa May podem atrasar as negociações em até seis meses, de acordo com um documento apontado como sendo do governo britânico, descoberto pelo jornal "The Times" e também acessado pela BBC.

O documento, preparado por um consultor que trabalharia para o governo de May, mostra um cenário caótico. A premiê está tentando controlar sozinha questões-chave do movimento de deixar a UE, o 'brexit', enquanto seus ministros estão divididos.

May prometeu dar início ao processo de saída da UE até março de 2017, mas revelou pouco até agora sobre seus planos para o futuro da relação do Reino Unido com os países do bloco europeu.

"A primeira-ministra está rapidamente adquirindo a reputação de resolver as questões por si mesma, o que é improvável que seja sustentável", diz o documento, datado de 7 de novembro.

"Pode levar seis meses antes de haver uma visão sobre prioridades e estratégia de negociação à medida que a situação política no Reino Unido e na União Europeia evolui", diz o documento.

O memorando diz que nenhuma estratégia comum foi criada, parte por culpa de divisões no governo e parte devido à situação política no resto da União Europeia. França e Alemanha terão eleições majoritárias em 2017.

O gabinete de May está dividido, com o secretário do Exterior, Boris Johnson, o ministro do Comércio Liam Fox e o ministro do 'brexit' David Davis —todos a favor da saída— de um lado, e o ministro das Finanças, Philip Hammond, e o secretário de Negócios, Greg Clark, de outro, defendendo a permanência, de acordo com o documento.

Ao todo, o governo britânico trabalha em mais de 500 projetos que possuem relação com o "brexit" e pode precisar de mais 30 mil funcionários públicos para o processo, segundo o relatório.

OUTRO LADO

Segundo o governo britânico, o memorando é um "documento não solicitado" escrito por um indivíduo para a empresa de consultoria Deloitte, disse uma porta-voz da primeira-ministra Theresa May.

A Deloitte não se pronunciou sobre o caso.

"É um documento não solicitado que não tem nada a ver com o governo. Não foi comissionado pelo governo, foi produzido por um indivíduo de uma empresa externa de consultoria que não estava trabalhando para o governo", disse a porta-voz aos jornalistas, dizendo que o relatório "não tem crédito".

Ela afirmou que o governo não reconheceu as preocupações que o documento levantou e disse que cabia à "Deloitte responder do que se tratava".


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