Folha de S. Paulo


Após diálogo avançar, governo e oposição trocam farpas na Venezuela

Um dia após terem se comprometido a adotar uma convivência pacífica para resolver a crise política e econômica na Venezuela, governo e oposição voltaram a trocar farpas e a se enfrentar neste domingo (13).

Na noite de sábado, após o encerramento da segunda rodada de diálogo mediada pelo Vaticano, representantes das duas partes leram uma declaração conjunta em que se comprometeram "de forma solene a que nossas diferenças políticas tenham uma resposta apenas no estrito marco constitucional, um caminho democrático, pacífico e eleitoral".

AFP
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, encontra representante do Vaticano, monsenhor Claudio Maria Celli
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, encontra representante do Vaticano, monsenhor Claudio Maria Celli

Governo e oposição prometeram "estabelecer uma relação política respeitosa".

"Expressamos nosso firme compromisso com uma convivência pacífica, respeitosa e construtiva, porque não há política, nem convivência, na violência", acrescenta um outro ponto do acordo "Conviver em paz".

O pretenso avanço, contudo, demonstrou ter bases frágeis.

Neste domingo, o partido Vontade Popular, sigla do líder opositor preso Leopoldo López, rechaçou os termos do acordo entre governo e oposição e pediu a reativação do "juízo político" no Parlamento contra o presidente Nicolás Maduro, além de novos protestos nas ruas.

Num comunicado, o partido pede a formação de "um grande movimento cívico (...) para levar a Assembleia Nacional a retomar o julgamento político e declarar o abandono do cargo de Nicolás Maduro."

A divulgação do texto coincide com a mobilização de dezenas de líderes e apoiadores do Vontade do Povo para a prisão militar de Ramo Verde, onde Lopez está preso sob a acusação de incitação à violência durante as manifestações convocadas em 2014, que deixaram 43 mortos.

A agremiação agradeceu aos "esforços de boa fé" da coalizão oposicionista Mesa da Unidade Democrática (MUD) no diálogo com o governo, mas criticou o fato de os acordos não mencionarem o referendo revogatório contra Maduro, suspenso no dia 20 de outubro.

A Mesa da Unidade Democrática se defendeu das críticas e afirmou que o seu objetivo continua sendo retirar o chavismo do poder.

"O progresso está sendo feito no sentido de criar condições propícias para recuperar o direito do povo venezuelano de votar", disse Jesús Torrealba, secretário executivo da MUD, referindo-se ao processo do referendo revogatório do mandato de Maduro.

A MUD reafirmou que mantém a sua principal reivindicação: reviver o referendo ou realizar eleições antecipadas.

Nicolás Maduro, por sua vez, descartou a possibilidade de negociar uma antecipação das eleições, ou a reativação de um referendo revogatório, no diálogo em curso com a oposição.

"Saída eleitoral? Saída para onde? (...) Que ninguém fique obcecado com processos eleitorais que não estão na Constituição", advertiu Maduro.

Maduro ressaltou que seu governo não vai ao diálogo como se fosse uma "rendição".

"Está tudo escrito, acordado entre as partes, por que então saem a dizer o contrário?", perguntou o presidente venezuelano.


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