Folha de S. Paulo


Show de Sting reabre o Bataclan, alvo dos atentados de Paris há um ano

O Bataclan rejeitou, neste sábado (12), o terror. Um ano após o massacre que deixou 90 mortos entre seu público, essa tradicional casa de espetáculos em Paris foi reinaugurada com uma emotiva apresentação de Sting.

O músico britânico iniciou seu concerto às 21h (às 18h em Brasília) pedindo um minuto de silêncio em homenagem às vítimas e cantando, em seguida, sobre "quão frágeis nós somos".

O espetáculo também recusou a associação entre o atentado terrorista, o mundo árabe e o islã. Sting cantou, na metade de sua apresentação, a música "Inshallah" (termo em árabe traduzido como "oxalá" em português).

Na plateia, Xavier Judge, 37, disse não preocupar-se com os riscos de um novo ataque coincidindo com o aniversário do massacre. Havia do lado de fora duas camadas de revista policial e carros não podiam circular na rua diante da casa de shows.

"É importante celebrarmos a vida e dizermos 'não' ao terror", afirmou à Folha. "Tivemos bastantes momentos felizes aqui no passado. Danem-se os extremistas."

A plateia acompanhou Sting com palmas, em um ambiente de celebração.

EPISÓDIO

O atentado ao Bataclan ocorreu, em 13 de novembro de 2015, durante uma apresentação da banda americana Eagles of Death Metal. Homens armados entraram no local e dispararam contra o público. A casa de espetáculos pode abrigar até 1.500 pessoas.

O ato foi reivindicado pela organização terrorista Estado Islâmico.

Houve outros ataques em Paris naquele mesmo dia. No total, 130 pessoas morreram. O país está ainda hoje sob estado de emergência.

Os ingressos para a apresentação de Sting foram vendidos durante a terça-feira (8) e esgotaram em minutos. Uma associação de apoio a vítimas afirmou à reportagem que dezenas dos tíquetes foram antes distribuídos a sobreviventes e familiares.

A arrecadação do show será doada a instituições de caridade relacionadas às vítimas, parte delas ainda hospitalizadas ou sob acompanhamento psicológico.

O Bataclan foi reformado, durante o último ano, com mudanças nos assentos e na iluminação. As alterações no local foram feitas, segundo a casa de espetáculos "para que não sobrasse nada da noite de absoluto terror".

MEMORIAL

O organizador de eventos Olivier Legrande, 49, havia estado no Bataclan dias antes do atentado. Atônito, assistiu às notícias na televisão e, dias depois, decidiu que precisava fazer parte dos esforços de cura da sociedade.

Ele fundou com amigos uma entidade para construir um memorial diante da casa de espetáculos. Mais de 50 projetos foram enviados e, após votação na internet, filtrados -o vencedor foi uma vela gigante com nomes das vítimas. Arquitetos de diversos países participaram.

Legrande arrecadou quase 120 mil euros por meio de doações e negocia, agora, os detalhes com outras organizações de vítimas e com a prefeitura de Paris. "É difícil criar um consenso entre as associações", disse à Folha.

Ele frequentava o Bataclan assiduamente e agora não sabe se poderá voltar um dia àquele local. Ele preferiu não ir a até o concerto do Sting.

"Perdi um amigo no ataque. Seria difícil reviver isso", afirmou. "É claro que precisamos cantar e dançar. Mas temos, também, que nos lembrar do que aconteceu."


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