Folha de S. Paulo


Análise

Vitória de Trump é boa notícia para donos de prisões privadas nos EUA

Após o anúncio da vitória de Donald Trump, na terça (8), as ações de empresas que gerenciam prisões privadas nos EUA dispararam.

Os papéis da CoreCivic –antiga Corrections Corporations of America–, que apoiou a candidatura do republicano, chegaram a subir 58% durante o dia. O segundo maior grupo do setor, GEO Group, viu suas ações terem alta de 21% na Bolsa de Nova York nesta quarta.

Ao longo da campanha, Trump fez diversas declarações racistas contra negros e latinos, que compõem parcela importante da população prisional nos EUA, especialmente nas penitenciárias privadas. A promessa de uma política mais dura contra essas minorias beneficia as prisões privadas, que ficariam mais cheias e ganhariam mais dinheiro.

Joe Raedle/AFP
Donald Trump discursa após vencer a eleição pra presidente dos EUA
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"O negócio vai muito bem", disse Ahmad Afzal, diretor da Fine Cotton Textiles, que produz uniformes para presos, em entrevista ao jornal britânico "The Guardian" em junho deste ano. De acordo com ele, o aumento no número de prisioneiros beneficia seu negócio. "Estamos felizes, o número [de clientes] está crescendo diariamente."

Para Trump, não parece um problema que prisioneiros sejam explorados e maltratados. Durante a campanha, o então candidato republicano defendeu, inclusive, a criação de mais prisões privadas no país. "Prisões privadas são muitos melhores", afirmou em entrevista à rede de TV MSNBC.

Mas essa lógica tem um problema: quando as prisões privadas são criadas, elas precisam ser preenchidas. Se as empresas não têm prisioneiros para preenchê-las, falta dinheiro para manter as instalações ou pagar trabalhadores. Isso não significa que essas prisões não sejam boa opção financeira –mas a que custo?

Muitas minorias, especificamente negros e latinos, estão indo para a prisão por causa de delitos não violentos, e há muitos homens deixam de ajudar financeiramente suas famílias porque recebem longas penas de prisão.

Isso não apenas destrói a vida do indivíduo preso mas pode criar um ciclo de pobreza para a família. Pesquisas mostram que crianças que não tiveram os pais por perto durante seu crescimento têm uma maior propensão para cometer crimes.

A vitória de Trump, portanto, é também uma vitória desse racismo sistêmico nos Estados Unidos. A população prisional norte-americana já aumentou 700% nas últimas décadas, de acordo com dados da ONG Pew Charitable Trusts. Com Trump presidente, a chance dessa tendência continuar é grande.

CARLOS D. WILLIAMSON é norte-americano, mestrando de Jornalismo na Northwestern University, em Chicago (EUA), e estagiário-visitante na Folha.


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