Folha de S. Paulo


Trump fez elogios a Lula em entrevista concedida à Folha em 2004

"Lula está realizando um trabalho admirável, da melhor qualidade. Estou muito otimista com relação ao seu governo". Assim Donald Trump se referiu à política econômica do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista à Folha em 2004

Concedida às vésperas da estreia do programa "The Apprentice" na TV norte-americana, o empresário, e agora presidente eleito dos EUA, já imaginava como deveria ser a versão brasileira do "reality show", que veio a ser batizada de "O Aprendiz".

"Queremos adotar o mesmo modelo, vai ser quase uma co-produção", disse à jornalista Teté Ribeiro, hoje editora da revista Serafina.

Perguntado sobre como esperava se comunicar com os candidatos brasileiros, disse que "meu idioma é o dinheiro. E dinheiro é uma língua universal".

Donald Trump ainda falou sobre seus investimentos na "Villa Trump", empreendimento imobiliário com campos de golfe, em Itatiba, no interior de São Paulo, que nunca saiu do papel.

Leia abaixo a entrevista completa.

Folha - Quem o convenceu a fazer um "reality show"?
Donald Trump - Mark Burnett, o criador do "reality show" "Survivor", que virou uma das séries mais bem-sucedidas da televisão no mundo inteiro, teve a idéia de fazer "The Apprentice" e me consultou a respeito. Gostei do conceito de um "reality show" em que os candidatos têm de fato a oportunidade de ver como funciona o verdadeiro mundo dos grandes negócios.

O vencedor de "The Apprentice" vai ganhar um emprego com salário de US$ 250 mil por ano (aproximadamente R$ 750 mil) para trabalhar no seu grupo econômico. O sr. realmente precisava de mais funcionários em suas empresas ou vai ser apenas um "benefício" do programa?
O volume e a diversidade dos meus projetos estão constantemente em expansão. Eu sempre preciso de novos talentos, preciso de pessoas espertas e cheias de energia para trabalhar para mim.

Fora da televisão, como o sr. escolhe seus colaboradores? Faz algum tipo de teste? Faz com que os candidatos vendam limonada na Quinta Avenida, por exemplo, como acontece no "reality show" "The Apprentice"?
Não sou eu quem escolhe os colaboradores. Tenho pessoas para fazer isso. Quanto ao teste, é a primeira vez que vai acontecer. Os candidatos do programa receberam várias tarefas para demonstrar suas habilidades, algumas delas realmente muito simples, outras bastante complicadas. Vender limonada em Nova York foi uma das tarefas mais simples.

Quanto dinheiro ganhou para fazer o programa?
Muito.

O sr. está investindo muito dinheiro em um empreendimento imobiliário no Brasil (o Villa Trump, com campos de golfe, em Itatiba, no interior de São Paulo). Tem acompanhado o mercado brasileiro?
Sim, claro. E conto com a ajuda dos meus sócios brasileiros, que me mantêm informado e me dão ótimas dicas.

Não seria um investimento mais garantido, além de opção mais lógica no Brasil, investir em um condomínio com um campo de futebol, em vez de reservar espaço ao golfe?
Acho que o golfe será uma das principais formas de entretenimento no Brasil no futuro próximo. Coisa de poucos anos. É necessário apenas um jogador para que aconteça uma partida, e essa é uma atividade que pode ser praticada por qualquer pessoa, de qualquer idade.

Qual é a sua avaliação da política econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva?
Lula está realizando um trabalho admirável, da melhor qualidade. Estou muito otimista com relação ao seu governo.

O que o sr. pode falar sobre a versão brasileira do "reality show" "The Apprentice"?
Nós queremos fazer o mesmo tipo de negociação que foi feita com "Survivor", que, depois de ter imensa repercussão nos Estados Unidos, foi licenciado e vendido para um monte de outros países. Queremos adotar o mesmo modelo, vai ser quase uma co-produção. Tudo depende agora do que os nossos parceiros brasileiros vão apresentar como opções para mim e para o meu produtor. Estamos sempre atrás de bons negócios.

Como espera se comunicar com os candidatos? Pretende aprender português?
Não se preocupe com isso. Quando o negócio é bom, a comunicação não é problema. Meu idioma é o dinheiro. E dinheiro é uma língua universal.

No ano passado, a Prefeitura do Rio de Janeiro anunciou que estava abrindo vagas para garis a um salário mensal de menos de US$ 200, e a fila de candidatos tinha 20 mil pessoas. Considerando esse fato, que tipo de impacto o sr. acredita que uma oferta como a de seu programa pode provocar por aqui?
Ainda que entendamos que o público-alvo de "The Apprentice" são pessoas qualificadas e com talento especial para os negócios, considerando a situação do mercado de trabalho brasileiro, podemos esperar milhões de candidatos.


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