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Hillary deve ter recorde de voto entre hispânicos, apontam analistas

Lalo de Almeida/Folhapress
PEMBROKE PINE, FLORIDA. 05-11-2016. A porto-riquenha Amparo Gomez segura as bandeiras de Porto Rico e dos Estados Unidos durante comício da candidata democrata Hillary Clinton a presidência dos Estados Unidos, em Pembroke Pines na Florida. A esquerda de óculos sua filha, a advogada Lisette Dede.
Com sua filha, a advogada Lisette Dede (de óculos), a porto-riquenha Amparo Gomez segura as bandeiras de Porto Rico e dos EUA durante comício da democrata Hillary Clinton na Flórida

O gigante latino acordou, proclamam analistas políticos. E isso é uma ótima notícia para a candidata democrata Hillary Clinton.

Os eleitores hispânicos, que tradicionalmente não aparecem para votar nas eleições americanas, estão batendo recordes na votação antecipada.

Até a semana passada, a votação antecipada de hispânicos na Flórida já superava em 170 mil votos a de 2012. As projeções de comparecimento são muito altas —em 2012, 48% dos hispânicos votaram.

Nesta eleição, a previsão é de 51% (e 63% na Flórida), segundo Eduardo Gamarra, professor da Universidade Internacional da Flórida e diretor do Fórum Latino de Opinião Pública.

Alto comparecimento é crucial nas eleições americanas —nos EUA, ao contrário do Brasil, o voto não é obrigatório.

Voto hispânico nas eleições presidenciais - Em %

O senador republicano Lindsey Graham admitiu que o voto hispânico pode ser "a grande história" desta eleição.

A empresa de pesquisas Latino Decisions estima que Hillary terá a maior votação da história entre hispânicos —76%— e o republicano Trump, a menor, 14%. O marido da candidata democrata, Bill Clinton, foi o candidato eleito com melhor desempenho entre eleitores hispânicos: 72% dos votos, em 1996.

"Isso é culpa dele, não mérito dela: eles não estão votando em Hillary, estão votando contra Trump", diz Gamarra. Em suas projeções, Hillary tem 72% dos votos hispânicos, e Trump, 27%.

Voto hispânico nas eleições presidenciais - Em %

O candidato republicano ofendeu sistematicamente os hispânicos durante a campanha. Prometeu construir um muro para evitar a imigração ilegal e disse que os mexicanos pagariam por ele; afirmou que grande parte dos imigrantes mexicanos eram estupradores ou traficantes de drogas.

"Estou na frente no voto hispânico. Também estou na frente no voto normal", chegou a dizer Trump.

O alto comparecimento de um eleitorado hispânico pode ajudar a reeditar a bem-sucedida coalizão que levou Obama à vitória em 2008. Obama contou com grande alta no comparecimento de jovens, negros e hispânicos, que tradicionalmente votam em democratas.

Desta vez, o comparecimento dos negros deve ser menor, uma vez que não mais se trata da eleição do primeiro presidente negro dos EUA.

Os jovens tampouco incensam Hillary, já que preferiam o rival dela nas primárias democratas, Bernie Sanders.

Mas Hillary espera compensar com um comparecimento recorde do eleitorado de origem latino-americana, em pânico com a possibilidade de Trump na Casa Branca.

VOTO ANTECIPADO

Quando subiu ao palco em seu comício em Pembroke Pines, neste sábado (5), Hillary perguntou à plateia: "Quantos de vocês já votaram?".

A maioria dos apoiadores levantou a mão. "Que ótimo! então agora vocês têm tempo para levarem outras pessoas para votar."

"Trump não pode ganhar de jeito nenhum, ele é racista e não gosta de imigrantes", dizia Amparo Gomez, 73, que se mudou de Porto Rico para os EUA há 40 anos.

Ela estava no comício com a família —duas filhas e a irmã. Todo mundo já tinha votado.

"Eu levei minha tia de 83 anos para votar", disse uma das filhas, Ruth Sanabria, 54. "E eu levei minha sobrinha de 18 anos para votar pela primeira vez", disse a outra filha, a advogada Lisette Dede, 46.

O problema, advertem especialistas, é que a votação antecipada e projeções de comparecimento do eleitor branco também estão em alta —e Trump tem seu maior eleitorado entre os brancos sem curso superior (os brancos que completaram a faculdade preferem Hillary).

Nos EUA de hoje, 69% dos eleitores são brancos, 12% negros, 12% latinos e 4% asiáticos. Mas o percentual de eleitores não brancos avança rapidamente. Na Florida, um Estado essencial para a vitória de Trump, 18% do eleitorado é hispânico. Em outros dois Estados importantes para o republicano, os latinos também têm grande peso: em Nevada são 17%, e na Carolina do Norte, 4%.

"Se ele perder na Flórida, precisaria vencer em Ohio e Iowa, onde está na frente, na Pensilvânia e em Michigan, onde está embolado, e em todos os outros Estados em que tem alguma chance", diz Bernard Fraga, professor-assistente de ciência política na Universidade de Indiana.

"É pouco provável, mas as margens estão apertadas, então é cedo para dizer", afirma Fraga.

CUBANO-AMERICANOS

Mas há divisões no eleitorado hispânico.

Muitos cubano-americanos são mais conservadores e continuam votando em republicanos. "Meus pais são cubanos, não tenho nada contra imigrantes, mas queremos que os estrangeiros criminosos sejam barrados deste país, e os muçulmanos também", dizia Chris Torres, 27, que protestava com uma faixa escrito "Hillary é criminosa" no comício da democrata.

Segundo Gamarra, o grupo de latinos que vota em Trump se compõe das primeiras gerações de imigrantes, os hispânicos mais velhos, principalmente cubano-americanos com mais de 45 anos.

Eles também votam em Trump por causa da imigração —não gostam dos imigrantes recentes; dizem que eles não trabalham duro e querem maior fiscalização para impedir sua entrada.

"Quando Trump fala sobre 'bad hombres' e estupradores, eles acham que é com os outros latinos, não com eles", diz Gamarra.

Para contrabalançar, democratas apostam em imigrantes que estão há menos tempo nos EUA e em porto-riquenhos.

Houve um enorme influxo de porto-riquenhos para o país por causa da crise econômica no território, e a maioria já se registrou para votar na democrata —corre a piada de que os democratas iam buscar os porto-riquenhos no aeroporto de Orlando, onde se concentram, e os levavam direto para se registrarem.

Para muitos imigrantes, esta eleição pode juntar ou separar famílias.

A colombiana Erika Diago, 42, tornou-se cidadã há dois anos e vai votar pela primeira vez em uma eleição americana, em Hillary.

O irmão dela vive ilegalmente no país e corre o risco de ser deportado. Erika está tentando trazer a mãe da Colômbia. "Com Trump, tudo vai piorar para nós."


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