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Fala islamofóbica de Trump alavanca voto em Hillary, aponta pesquisa

Jewel Samad e Jeff Kowalsky/AFP Photo
Voto muçulmano deve ir em peso para Hillary, após campanha de Trump marcada por islamofobia
Voto muçulmano deve ir em peso para Hillary, após campanha de Trump marcada por islamofobia

Donald Trump, candidato republicano à Presidência dos EUA, pisoteou na população muçulmana durante a campanha. Em certa feita, sugeriu que fossem proibidos de entrar no país.

Nesta terça (8), quando forem às urnas, os islâmicos devem dar a resposta: apenas 4% deles têm planos de eleger Trump à Casa Branca.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Cair (Conselho das Relações Americanas-Islâmicas), mais de 86% dos muçulmanos registrados para votar têm a intenção de participar das eleições. Deles, 72% planejam votar na democrata Hillary Clinton.

Há 3,3 milhões de muçulmanos nos EUA (cerca de 1% da população total), de acordo com o instituto de pesquisa Pew, e 6 milhões, de acordo com a conta do Cair.

O número de eleitores, porém, é incerto. O Cair estima que 1 milhão de muçulmanos sejam registrados para votar.

O voto muçulmano pode ser decisivo em Estados como Flórida, Virgínia, Michigan e Ohio, onde Hillary se empenhou para conquistá-lo.

A democrata conta com um assessor específico para a comunidade, e na sua equipe há o primeiro muçulmano eleito para o Congresso.

Em meio às falas preconceituosas de Trump, "é estratégico que os democratas demonstrem publicamente seu apoio aos muçulmanos", afirmou à Folha Robert McCaw, gerente para assuntos governamentais do Cair.

Organizações sem fins lucrativos como o Emerge USA fazem campanha para incentivar muçulmanos a votar. Uma das tarefas é explicar o impacto do voto, disse Khurrum Wahid, líder do grupo.

"Os eleitores muçulmanos estão hoje mais engajados porque sentem que sua sobrevivência está em jogo."

A fidelidade dos eleitores muçulmanos ao Partido Democrata está em alta desde a eleição de Barack Obama. Em 2008, uma pesquisa apontou que 49% se identificavam com a sigla. A taxa subiu para 67% neste ano.

Os republicanos tiveram um desempenho pior, indo de 8% em 2008 para 6%.

POLÊMICA

O instituto conservador Middle East Forum acusou a campanha democrata de ter recebido mais de US$ 40 mil de "doadores islamitas".

Islamitas são os muçulmanos que, como a Irmandade Muçulmana, acreditam na relação indissociável entre o islã e a política.

Algumas dessas organizações, como o Hamas, são consideradas terroristas, mas há gradações.

O Cair, por exemplo, é considerado terrorista pelos Emirados Árabes, mas não pelos EUA. As autoridades americanas deveriam rever a posição, afirmou o historiador americano Daniel Pipes, diretor do Middle East Forum. As doações são irrelevantes entre os milhões recebidos por Hillary, mas "dizem alguma coisa sobre os candidatos que as aceitam", afirmou Daniel Pipes.


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