Folha de S. Paulo


Retórica trumpista gera reação e ira da comunidade internacional

Chris O'Meara//Associated Press
Republican presidential candidate Donald Trump gestures during a campaign speech Saturday, Nov. 5, 2016, in Tampa, Fla. (AP Photo/Chris O'Meara) ORG XMIT: FLCO111
Donald Trump durante discurso em Tampa

Ele chamou migrantes mexicanos de "estupradores", afirmou que os chineses são campeões em tirar proveito financeiro dos EUA e disse que faria o Paquistão libertar "em dois minutos" um médico que ajudou a inteligência americana na busca pelo terrorista Osama bin Laden.

Criticou o engajamento dos americanos em ações internacionais militares sem um pagamento em troca e sugeriu que aliados deveriam se armar nuclearmente.

Ainda propôs banir a entrada de migrantes muçulmanos em solo americano e disse que famosos podem fazer de tudo com mulheres —até pegá-las "pela xoxota".

Em pouco menos de um ano e meio de campanha pela chefia da Casa Branca, o republicano Donald Trump disparou contra muitos, dentro e fora dos Estados Unidos.

A retórica de Trump não tem paralelo no cenário americano moderno, mesmo considerado que candidatos por vezes expressam posições mais radicais que as aplicadas quando são eleitos, avalia Thomas Wright, do centro de estudos Brookings e diretor do Projeto sobre Ordem Internacional e Estratégia.

"Ele é único nesse sentido, porque as visões [manifestadas por candidatos] no passado não foram tão fora do 'mainstream' como aquelas de Trump —no passado, eles estavam dentro do 'mainstream' do partido", afirma.

"O risco real é que ele acredite no que tem dito."

As reações às polêmicas do republicano também não foram sempre diplomáticas, mesmo se vindas de fora.

Ele foi chamado de "narcisista" e alguém que age "como um palhaço" atrás de votos pelo jornal chinês "Global Times". O ministro de Finanças da China, Lou Jiwei, classificou o republicano como "uma figura irracional".

Um ministro do governo paquistanês, por sua parte, disse que as ideias de Trump demonstravam uma "ignorância" a respeito de seu país.

Mas talvez os embates mais violentos tenham sido com a comunidade muçulmana e seus defensores —o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que a ideia de vetar muçulmanos não era "remotamente possível"— e os vizinhos do sul.

Mexicanos, que podem ver ampliadas as barreiras físicas entre eles e os americanos para barrar o fluxo indesejado de imigrantes, trocaram bonecos de Judas por Trumps de papel machê para queimarem na época da Páscoa.

E o presidente Enrique Peña Nieto classificou de "grande ameaça" a seu país as posições do republicano.

AMIGOS

Apesar de alguns líderes terem amenizado críticas ácidas feitas a Trump ao longo da campanha, a eventual eleição do republicano é envolta por preocupações.

"Ele precisaria ter a capacidade de evoluir e mostrar que está pronto para ser um presidente para todos os americanos. E que entendeu a gravidade da posição e de seu papel nos Estados Unidos e no mundo, mas não há evidências de que ele é capaz disso", pondera Wright.

"[A avaliação] vai depender do que ele fizer, mas eu não contaria com ele mudar."

Apesar da coleção de críticas, Trump também recebeu apoios do exterior. O presidente russo, Vladimir Putin, chamou o republicano de vívido e talentoso. Um jornal norte-coreano se referiu a ele como "um político sábio".

E o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, disse que Trump teria a melhor política externa para seu país. "Trump defende o controle dos migrantes. E ele é contra a política de construir democracias em outros países."


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