Folha de S. Paulo


FBI é acusado de politizar caso de e-mails de Hillary Clinton

Há meses o FBI (polícia federal dos EUA) tem sido alvo de críticas do candidato presidencial republicano, Donald Trump, pela decisão de não recomendar o indiciamento da rival democrata, Hillary Clinton, na investigação sobre o uso não autorizado de um servidor de email privado quando ela era secretária de Estado (2009-2013).

O inesperado anúncio feito na sexta (28) pelo diretor do FBI, James Comey, sobre a descoberta de e-mails que podem ser "pertinentes" para o caso mudou os ataques de lado. Comey passou a ser elogiado por Trump e entrou na mira de democratas –que o acusam de politizar o caso– e também de vários juristas, incomodados com a quebra da prática de evitar possível influência nas eleições.

Em uma carta a Comey encabeçada pelo ex-secretário de Justiça Eric Holder, 99 procuradores federais criticaram o chefe do FBI por sua decisão, afirmando ser "um convite a especulação considerável do público" sobre os e-mails de Hillary.

Na mensagem de apenas 166 palavras em que revelou a existência dos novos e-mails, Comey não dá detalhes sobre seu conteúdo.

Os signatários se dizem "perplexos" com o comportamento de Comey, que consideram "sem precedentes". Segundo eles, é uma ameaça à imagem de independência do sistema judiciário.

Assim como fizera Hillary Clinton ao reagir ao desdobramento, eles disseram que Comey deve ao público a revelação dos fatos que o levaram a reexaminar o caso.

O líder dos democratas no Senado, Harry Reid, foi mais longe, acusando Comey de ter violado uma lei de 1939 que proíbe funcionários do governo de se envolver em atividades políticas.

Para Reid, ficou claro que o chefe do FBI agiu "para ajudar um partido em detrimento de outro". Como exemplo adicional, cita supostas "informações explosivas" que Comey teria omitido sobre as ligações entre Trump e o governo russo.

Em seu breve comunicado ao Congresso, Comey explica que os novos e-mails fazem parte de uma investigação "não relacionada" ao caso de Hillary, mas que parecem "pertinentes" a ele.

Segundo fontes do governo americano, os e-mails foram descobertos no computador do ex-deputado Anthony Weiner, 55, investigado por indícios de que trocou mensagens sexuais com uma menina de 15 anos.

Weiner era casado até agosto –quando o escândalo veio à tona– com Huma Abedin, uma das principais assessoras de Hillary.

Embora a maioria dos ataques a Comey tenha sido disparada pelos democratas, a conduta também causou incômodo no partido rival.

Secretário de Justiça no governo do republicano George W. Bush entre 2005 e 2007, Alberto Gonzales disse que o chefe do FBI cometeu "um erro de julgamento".

Republicano, mas com bom trânsito nos dois partidos, Comey foi nomeado para chefiar o FBI pelo presidente Barack Obama em 2013. Antes, havia servido como secretário de Justiça de Bush, entre 2003 e 2005.

CASA BRANCA

Em entrevista coletiva nesta segunda (31), o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, disse não acreditar que Comey esteja "intencionalmente tentando influenciar o resultado da eleição".

Mas deu a entender que, na opinião de Obama, a conduta de Comey contraria a prática aceita, afirmando que "a democracia foi muito bem servida" pela tradição seguida no FBI e no Departamento de Justiça de "limitar a discussão pública sobre investigações em andamento, seja perto ou não de uma eleição".

O revés para a campanha democrata às vésperas da eleição ocorre em um momento em que Hillary ainda tem vantagem nas pesquisas, mas com uma diferença menos folgada do que há algumas semanas, quando Trump foi alvo de acusações de agressão sexual por várias mulheres.

De acordo com a média de pesquisas nacionais do site Real Clear Politics nesta segunda, a democrata tinha 3,1 pontos de vantagem sobre o republicano.


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