Folha de S. Paulo


Mercosul vai esperar diálogo sob mediação do Vaticano na Venezuela

Os chanceleres dos quatro países fundadores do Mercosul –Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai– decidiram, em reunião informal em Cartagena, esperar o diálogo entre o governo e a oposição venezuelanos que será mediado pelo Vaticano antes de discutir uma eventual suspensão do país do bloco.

Em entrevista à Folha após a reunião, o ministro das Relações Exteriores brasileiro, José Serra, disse que houve um consenso entre os quatro países de que essa seria a melhor atitude a ser tomada neste momento. As conversas devem começar neste domingo (30), em Caracas.

Os quatro governos já haviam concordado em discutir a possível aplicação da cláusula democrática do Mercosul contra a Venezuela, que poderia levar à sua suspensão.

Mauricio Collado/Xinhua
O chanceler brasileiro, José Serra, é recebido pelo presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, em Cartagena
O chanceler José Serra é recebido pelo presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, em Cartagena

Segundo Serra, durante o almoço de presidentes, chanceleres e representantes de Estado da Cúpula Iberoamericana, neste sábado, em Cartagena, a crise da Venezuela foi o assunto dominante, com o presidente peruano, Pedro Pablo Kuczynski, pedindo uma solução à situação de modo mais enfático e fazendo críticas ao regime.

A Venezuela, representada pela chanceler Delcy Rodriguez defendeu-se, com a ajuda do equatoriano Rafael Correa. "Ele [Correa] disse que na Venezuela não há presos políticos, mas políticos presos", contou o ministro brasileiro.

De todo modo, não houve menção a medidas mais duras como o acionamento da Carta Democrática da OEA, nem da cláusula democrática do Mercosul.

"De fato, estão todos esperançosos de que esse diálogo com o Vaticano possa ajudar a solucionar a situação, apesar de a maioria também se mostrar preocupada com a escalada da tensão no país nas últimas semanas", afirmou Serra.

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, cancelou, no último momento, sua viagem à Colômbia para participar da cúpula, anunciada também de forma surpreendente na sexta (28). A decisão de Maduro de participar do encontro havia sido motivada pelas duras críticas que vem recebendo de outros líderes presentes e pela possível reunião que chanceleres do Mercosul.

ACORDO DE PAZ

O prêmio Nobel da Paz, recém-entregue ao presidente colombiano Juan Manuel Santos, e estímulos para que a nova etapa das negociações com as guerrilhas continuem deram o tom dos discursos dos presidentes neste sábado.

O próprio Santos explicou o novo momento do processo, após a derrota do acordo a que haviam chegado o governo e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), em 2 de outubro.

"A paz da Colômbia será uma realidade", disse. "Assim que soube do resultado, eu o reconheci e convoquei um grande diálogo nacional pela reconciliação. Minha intenção é transformar esse surpreendente resultado negativo em uma grande oportunidade."

Nas últimas semanas, Santos vem se reunindo com opositores do acordo, liderados pelos ex-presidentes Álvaro Uribe e Andrés Pastrana e líderes evangélicos e católicos.

Ele acrescentou que as propostas desses representantes já estavam sendo levadas à mesa de negociações, em
Havana. "Dei instruções aos negociadores de que não se levantem da mesa enquanto não esgotem todos os pontos da agenda do uribismo."

A presidente do Chile, Michelle Bachelet, cujo país foi observador da primeira fase do processo, reforçou que continuará mantendo o apoio, assim como o equatoriano Correa. O recém-iniciado processo de paz com a segunda maior guerrilha colombiana, o ELN (Exército de Libertação Nacional) ocorrerá em Quito.

A jornalista SYLVIA COLOMBO viajou a convite da Secretaria Iberoamericana


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