Folha de S. Paulo


Chavismo ameaça 'tomar' empresas que participem de greve na Venezuela

O governo de Nicolás Maduro e seus apoiadores intensificaram, nesta quinta-feira (27), a pressão contra a oposição às vésperas da greve geral convocada por antichavistas para esta sexta (28).

O deputado Diosdado Cabello, um dos mais importantes nomes do chavismo, ameaçou "tomar" as empresas que aderirem à greve coordenada pela coalizão opositora MUD (Mesa da Unidade Democrática).

"Empresa que pare, empresa que deve ser tomada pelo governo bolivariano", disse Cabello.

Nesta quinta (27), agentes armados do Sebin (serviço de inteligência venezuelano) já cercavam a sede do grupo Polar —o mais importante conglomerado de produtos alimentícios do país.

A greve, marcada para começar às 6h desta sexta e terminar às 18h (8h e 20h em Brasília, respectivamente), será realizada para exigir um referendo revogatório sobre o mandato de Maduro.

O processo de convocação da consulta foi suspenso pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral).

Nesta quinta, o presidente da Assembleia Nacional, o opositor Henry Ramos Allup, denunciou o corte do fornecimento de energia nas instalações do Legislativo na hora em que seria realizada a sessão para discutir a responsabilidade do presidente sobre a crise política no país.

O debate dá seguimento ao julgamento "político e penal" de Maduro, iniciado pela Assembleia na terça (25).

Houve confronto entre manifestantes chavistas, que tentavam impedir a entrada dos deputados opositores na Assembleia, e a Guarda Nacional, nos arredores do prédio. Jesús Torrealba, secretário-executivo da MUD, disse que uma das avenidas que dão acesso à sede do Legislativo foi fechada por policiais.

Dentro do Parlamento, se revezaram na tribuna, durante a sessão, organizações da sociedade civil, como sindicatos e agremiações, contrárias ao presidente.

Mesmo que o Legislativo declare a responsabilidade de Maduro, o mandatário só poderia ser deposto após decisão do Tribunal Supremo de Justiça, a mais alta corte do país, controlada pelo chavismo.

Antes disso, o processo precisa passar por uma primeira avaliação no Conselho Moral Republicano —formado pelo procurador-geral, o controlador-geral e o defensor do povo, todos cargos ligados ao governo.

MERCOSUL

Os chanceleres dos países fundadores do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) devem se reunir para discutir a situação da Venezuela no bloco, às margens da Cúpula Iberoamericana, que ocorre nesta sexta (28) e sábado (29), em Cartagena, na Colômbia. O plano de realizar o encontro foi confirmado pela delegação argentina, segundo a Folha apurou.

No início da semana, o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, havia dito que os quatro países se reuniriam para avaliar se a Venezuela descumpriu a cláusula democrática do Mercosul —o que poderia levar à sua suspensão do bloco.

Uma decisão como essa, contudo, não deve ser tomada na reunião dos chanceleres, já que precisaria antes passar pelo aval dos quatro presidentes.

Na quarta (26), o chanceler do Paraguai, Eladio Loizaga, já havia confirmado que a reunião estava planejada para ocorrer na cidade costeira colombiana.

Segundo Loizaga, qualquer resolução com relação à Venezuela deve responder a um processo. "O Paraguai não deseja que se atue com a mesma injustiça e ilegalidade como quando se decidiu a suspensão de nosso país, em 2012", completou.

Sua proposta, disse, é que se tome a decisão de iniciar o processo em Cartagena se houver consenso.

A chancelaria venezuelana reagiu. Em nota, negou que tenha sido convocada durante a Cúpula Iberoamericana uma reunião de chanceleres do Mercosul, cuja presidência temporária julga estar exercendo (apesar de ter sido impedida pelos outros países-membros).

O texto diz que, se houver, a reunião se daria "à margem da legalidade do bloco, e suas consequências seriam nulas". "A República Bolivariana da Venezuela rejeita qualquer tentativa de violentar o atual regulamento do bloco e denuncia uma nova manobra da Tríplice Aliança para desprestigiar esse importante bloco regional", afirma a nota.


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