Folha de S. Paulo


Incêndios são registrados no terceiro dia do desmonte de campo em Calais

Pascal Rossignol/Reuters
Fumaça e chamas no campo de refugiados de Calais, que está sendo desmontado pela França
Fumaça e chamas no campo de refugiados de Calais, que está sendo desmontado pela França

Múltiplos incêndios foram registrados nesta quarta-feira (26) em vários pontos da "Selva" de Calais, o maior acampamento informal de migrantes da França, no terceiro dia do desmantelamento do local, após uma noite com vários focos de incêndio deliberados.

Colunas de fumaça eram observadas no imenso acampamento de barracos que está sendo demolido desde segunda-feira pelas autoridades francesas.

Na rua principal do acampamento, uma caminhonete de uma associação estava em chamas. Os bombeiros foram mobilizados, mas em número insuficiente para controlar rapidamente o fogo.

Quatro migrantes afegãos foram detidos após os incêndios, informou a prefeitura de Calais.

Vários migrantes corriam desesperados de seus barracos com alguns pertences nos braços, enquanto as chamas se alastravam pela "Selva".

Algumas pessoas tentavam proteger os botijões de gás. Durante a noite, os incêndios provocaram a explosão de pelo menos dois botijões e um migrante teve ferimentos nos tímpanos.

"Alguém queimou nossos barracos. Talvez tenham utilizado gasolina, não sei, mas os incêndios se espalharam rapidamente. Tivemos que fugir no meio da noite", disse Arman Khan, um afegão de 17 anos.

"Tive que abandonar os meus pertences, não sobrou nada", completou.

De acordo com várias fontes, o fogo é uma "tradição, sobretudo entre algumas comunidades, que têm o costume de incendiar suas casas antes de abandoná-las".

O mesmo fenômeno foi registrado em março, quando foi desmantelada a ala sul do imenso acampamento de barracos na região norte da França.

As organizações que trabalham no acampamento já haviam advertido para a possibilidade de incêndios e distribuíram dezenas de extintores entre os migrantes.

O vice-prefeito de Calais, Philippe Mignonnet, citou incêndios que chamou de "maliciosos".

ÚLTIMAS HORAS

Apesar das chamas, as operações para a demolição do acampamento, onde vivem de 6.000 a 8.000 migrantes, prosseguiam nesta quarta-feira.

As autoridades francesas pretendem finalizar nas próximas horas as operações para esvaziar o local, afirmou à AFP a representante local do Estado, Fabienne Buccio.

"Podemos encerrar o dispositivo esta noite", declarou Buccio, em referência ao processo de evacuação iniciado na segunda-feira.

"Não resta ninguém no campo. Todos estão sob abrigo", completou.

Os migrantes, principalmente afegãos, sudaneses e eritreus, que abandonaram seus países para fugir de conflitos e da extrema pobreza, estão sendo levados para centros de acolhimento espalhados por todo o território francês.

Desde segunda-feira, mais de 3.000 migrantes adultos foram retirados do local. Mais de 700 menores de idade foram levados para um centro de recepção provisório, dentro do acampamento, enquanto a situação de cada um é examinada.

No total, 1.300 menores desacompanhados moravam na "Selva". Quinhentos deles afirmam ter parentes no Reino Unido.

Quase 200 foram acolhidos no Reino Unido desde o início de outubro, incluindo 60 meninas que corriam o risco de exploração sexual, anunciou a ministra britânica do Interior, Amber Rudd.

A presidente da ONG Save the Children, Carolyn Miles, pediu às autoridades francesas uma garantia de segurança para os menores, antes de afirmar que a situação das crianças e adolescentes é "assustadora".

O desmantelamento do acampamento, que se tornou um triste símbolo da crise migratória na Europa, foi anunciado pelo presidente François Hollande em setembro, a seis meses das eleições presidenciais, um pleito que terá a imigração como um dos principais temas.


Endereço da página: