Folha de S. Paulo


Os dólares de Donald Trump vêm de Frankfurt

Grandes bancos americanos há tempos pararam de fazer negócios com o magnata. Seu maior credor é o alemão Deutsche Bank, numa relação turbulenta e de bilhões de dólares. Os antepassados de Donald Trump vêm de Kallstadt, um vilarejo vinícola, não muito longe de Frankfurt. E é justamente da capital financeira alemã que o dinheiro vem quando o bilionário candidato republicano à presidência dos EUA precisa de um empréstimo.

Trump obtém a maior parte de seu financiamento do Deutsche Bank. O maior banco alemão já emprestou bilhões de dólares ao magnata, numa relação conturbada para ambos os lados.

Jonathan Ernst - 22.out.2016/Reuters
Candidato republicano, Donald Trump, durante evento de campanha presidencial
Candidato republicano, Donald Trump, durante evento de campanha presidencial

Os negócios de Trump com o Deutsche Bank começaram em 1995, quando ele adquiriu o arranha-céu antes conhecido como o prédio do Bank of Manhattan Trust. Construído em 1930 e coberto por um belo telhado de cobre, este ícone arquitetônico chegou a ser o edifício mais alto do mundo.

O prédio está localizado a poucos metros da Bolsa de Valores de Nova York, ou seja, um objeto imobiliário de alto valor. Trump garantiu um empréstimo de US$ 125 milhões com o Deutsche Bank. E, desde então, ambos fecharam diversos acordos.

DE AMIGOS A ADVERSÁRIOS

Em 2003, o banco alemão ajudou a companhia Trump Hotels & Casino Resorts com um empréstimo de renda fixa, totalizando US$ 468 milhões, para seus cassinos na costa de Nova Jersey. O negócio foi por água a baixo depois de até mesmo o carro-chefe dos cassinos na região, o Taj Mahal, fracassar em gerar lucros.

Em 2005, o Deutsche Bank empresou US$ 640 milhões para o Trump International Hotel & Tower, em Chicago. O banco estava ansioso em fechar o negócio, muito provavelmente devido à taxa de US$ 12 milhões que seria recebida. Quanto a Trump, ele se esforçou no papel de anfitrião para acomodar os banqueiros, levando-os para Chicago em seu jato particular para mostrar os planos do projeto.

Embora o acordo de financiamento de Chicago fosse desejado tanto por Trump como pelo Deutsche Bank, ele também foi o que transformou amigos de negócios em adversários.

De acordo com o Wall Street Journal, Trump não conseguiu quitar US$ 334 milhões deste empréstimo em 2008 por causa da falta de liquidez resultante do estouro da bolha imobiliária nos EUA. Trump então decidiu processar o Deutsche Bank, insistindo que a crise financeira que o impedia de quitar a dívida era na verdade um "caso de força maior" e que o banco deveria perdoá-lo por não pagar a tempo.

Além disso, o magnata entrou com um processo contra o banco alemão pedindo uma indenização de US$ 3 bilhões com o argumento de que as práticas de empréstimos do Deutsche Bank durante a crise hipotecária ajudaram a gerar os problemas. Em contrapartida, o Deutsche Bank entrou com uma ação contra Trump por US$ 40 milhões, que, segundo o banco, tinham sido garantidos pessoalmente pelo magnata.

PERDOE, MAS NÃO ESQUEÇA

Posteriormente, ambas as partes entraram em acordos, mas a relação azedou. Para muitos no Deutsche Bank, Trump se tornou persona non grata. Mas o serviço para clientes privados do banco seguiu aberto para negócios. Desta forma, Trump conseguiu um novo empréstimo, no valor de US$ 125 milhões, para o Doral Golf Resort & Spa, em Miami, Flórida.

O maior acordo com o magnata veio em 2012, com o financiamento de US$ 950 milhões para um arranha-céu de Trump no número 1290 da Avenue of the Americas –novamente um item nobre do mercado imobiliário de Nova York. Atualmente, o Deutsche Bank está financeiramente envolvido num outro projeto de Trump: o Old Post Office, em Washington, que está sendo remodelado para virar um hotel de luxo.

A soma dos empréstimos do Deutsche Bank a Trump é de impressionantes US$ 2,5 bilhões, sem que seja levado em conta o US$ 1 bilhão em garantias de empréstimos. O banco alemão não é apenas de longe o maior credor do magnata nova-iorquino –ele é o único.

De acordo com o Wall Street Journal, a maioria dos bancos americanos, incluindo Citigroup, JP Morgan e Morgan Stanley, há muito tempo pararam de fazer negócios com Trump, que é conhecido não só por seus sucessos, mas também por fracassos e loucuras nos empreendimentos.


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