Folha de S. Paulo


Oposição na Venezuela reclama de golpe após suspensão de referendo

A oposição venezuelana classificou nesta sexta-feira (21) como um golpe de Estado a suspensão do referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro.

"Na Venezuela se deu um golpe de Estado, não se pode qualificar de outra forma. Chegou a hora de defender a Constituição", afirmou o governador de Miranda e líder opositor, Henrique Capriles.

O CNE (Conselho Nacional Eleitoral) suspendeu na quinta-feira (20) a segunda etapa do processo de referendo convocado pela oposição contra Maduro, com base em decisões de tribunais penais estaduais que anularam em cinco Estados a coleta de assinaturas feita pela oposição em maio, na primeira fase de convocação do referendo.

Devia-se recolher 1% do padrão eleitoral, ou 200 mil firmas –a oposição apresentou 1,9 milhão. Agora, os tribunais penais alegam que houve fraude na coleta. Com isso, não será realizada na próxima semana a coleta de firmas que totalizem 20% (4 milhões) do padrão eleitoral.

Em pronunciamento da coalizão MUD (Mesa da Unidade Democrática), Capriles disse que o povo deve "restituir a ordem constitucional". "Na quarta-feira (26) terá início uma mobilização em todo o país, vamos tomar a Venezuela de ponta a ponta, todo o povo mobilizado para restituir a ordem constitucional."

Ele afirmou que a Assembleia Nacional –de maioria opositora– fará uma sessão de emergência neste domingo (23) para "tomar decisões", porque Maduro "está desobedecendo a Constituição".

Capriles declarou que o Parlamento avaliará "a conduta de Maduro", que está em viagem ao Azerbaijão, Irã, Arábia Saudita e Qatar.

Segundo pesquisa do instituto Datanálisis, 62,3% dos venezuelanos votariam no referendo para destituir Maduro. Se o referendo acontecer antes de 10 de janeiro de 2017, como quer a oposição, e Maduro seja derrotado, novas eleições são realizadas.

Caso a consulta seja feita após essa data, em caso de derrota de Maduro assume o vice-presidente.

RETENÇÃO

Na quinta, líderes da oposição disseram que foram proibidos de sair da Venezuela.

Várias figuras da oposição publicaram um documento supostamente emitido por um tribunal da cidade de Valencia ordenando que oito pessoas, entre elas o porta-voz da Mesa de Unidade Democrática (MUD), Jesús Torrealba, e o duas vezes candidato presidencial Henrique Capriles permaneçam na Venezuela.

"Eles estão perdendo seu tempo mais uma vez. Esperem para ouvir o que temos a dizer nas próximas horas", tuitou Capriles, que vem liderando a campanha que pede um plebiscito contra Maduro. "É uma agressão gratuita", acrescentou Torrealba. "Somos a maioria, nas ruas e no Congresso.

REAÇÕES

O secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), Luís Almagro, afirmou na sexta que a suspensão do referendo confirma o "rompimento democrático" na Venezuela. "Hoje estamos mais convencidos do que nunca do rompimento democrático na Venezuela. Chegou a hora de adotar ações concretas na OEA", disse, sem especificar quais.

Neste sábado (22), Brasil, Argentina, Estados Unidos, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras, México, Peru, Paraguai e Uruguai soltaram um comunicado conjunto em que expressam preocupação com a suspensão do processo de coleta de assinaturas para o referendo revogatório, bem como com a retenção dos líderes da oposição no país.

"A paralisação do processo, previsto para realizar-se entre os dias 26 e 28 de outubro, e a decisão do Poder Judiciário da Venezuela de proibir a saída do território venezuelano dos principais líderes da oposição desse país afetam a possibilidade de estabelecer um processo de diálogo entre o Governo e a oposição que permita uma saída pacífica para a situação crítica que atravessa essa nação irmã", diz a nota.


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