Folha de S. Paulo


Em meio a explosões do EI, curdos avançam sobre vilas a leste de Mossul

Apoiado pelos EUA, o Exército iraquiano deu início nesta segunda-feira (17) a uma extensa ofensiva militar para retomar do Estado Islâmico o controle da cidade de Mossul, no norte do país.

Com 1,5 milhão de habitantes, a segunda maior cidade iraquiana é a "capital" do EI no país e uma das últimas bases da facção terrorista em território iraquiano. A batalha, que já era esperada e pode durar por meses, é crucial para a estabilidade da região.

A ação foi anunciada por Haider al-Abadi, premiê iraquiano. "O tempo da vitória chegou, e as operações para libertar Mossul começaram."

Os primeiros esforços foram realizados pelas forças curdas (minoria étnica), conhecidas como peshmerga, que tomaram ao menos sete vilarejos próximos a Mossul.

Massoud Barzani, presidente do governo iraquiano semiautônomo do Curdistão, disse ter conquistado o equivalente a 200 quilômetros quadrados (maior do que a zona oeste de São Paulo).

Uma série de explosões provocadas por homens-bomba do EI e veículos equipados com detonadores retardou o avanço das tropas peshmerga. Havia também relatos de nuvens de fumaça causadas pela queima de petróleo, dificultando a visibilidade para os jatos.

Também foi registrada a explosão de um carro-bomba perto de um posto de controle do Exército a 20 quilômetros ao sul da capital, Bagdá, deixando ao menos nove mortos. Ninguém assumiu a autoria do atentado.

Batalha por Mossul

O avanço rumo a Mossul conta com cerca de 30 mil soldados iraquianos e peshmerga, além de líderes tribais sunitas (ramo majoritário do islã e o mesmo do EI). Os EUA participam com bombardeios aéreos e ajudam na coordenação terrestre. Estima-se que haja entre 4.000 e 8.000 militantes do EI em Mossul.

No domingo (16), o EI deixou Dabiq, na Síria, após o ataque de rebeldes sírios apoiados pela Turquia.

Se fugirem de Mossul, seus membros podem tentar refugiar-se na cidade de Raqqa, sua maior base na Síria. As autoridades iraquianas planejam impedir esse cenário, cortando as rotas de fuga.

Apesar da vantagem numérica, o Exército iraquiano se vê diante de um cenário difícil. Os militantes do EI já utilizaram em outras ocasiões civis como escudos humanos. Soma-se a isso o fato de que o Iraque tinha também a vantagem numérica em 2014, quando o EI atacou Mossul, mas os seus soldados recuaram e permitiram a invasão. À época, o fiasco foi justificado pela desmotivação e despreparo das tropas.

LOCAL SIMBÓLICO

Foi em uma das mesquitas de Mossul que a organização terrorista declarou seu califado islâmico, estabelecendo um território que incluía partes de Síria e do Iraque.

Além de sua importância estratégica, o local tem valor simbólico. O discurso do líder terrorista Abu Bakr al-Baghdadi em Mossul, coroando a si mesmo como califa de todos os muçulmanos, é ainda hoje uma das imagens mais poderosas do EI.

A cidade preocupa organizações humanitárias exatamente por suas dimensões. A saída de centenas de milhares de moradores pode gerar uma nova onda de refugiados rumo à Europa, como ocorreu nos últimos anos.

Stephen O'Brien, vice-secretário-geral para assuntos humanitários da ONU, afirmou estar "extremamente preocupado" com a segurança dos cidadãos de Mossul, "que podem ser afetados pelas operações militares".

O Exército iraquiano lançou dezenas de milhares de folhetos em Mossul no domingo, alertando moradores sobre a ofensiva e dizendo que civis não serão atacados.

Os papéis incluíam instruções como colocar fita adesiva nas janelas em forma de "X" para evitar que se estilhassem ou dizer para as crianças que as explosões são apenas trovoadas.

O Iraque não tem estrutura para absorver essa população em seu território, caso deixe Mossul. Tampouco seria um processo simples, com as tensões sectárias que ameaçam o país, dividindo os ramos sunita e xiita e as populações árabe e curda.

A expulsão do EI não significaria o fim das ameaças terroristas.

A facção atua no Iraque há mais de uma década, com diferentes formações e lideranças —está acostumada ao subterrâneo, de onde ainda pode planejar atentados.

Editoria de arte/Folhapress

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