Folha de S. Paulo


Criticado no exterior, Rodrigo Duterte se mantém popular nas Filipinas

Virgilio Mabag acredita que há uma grande probabilidade de que seu irmão viciado em metanfetamina se torne uma vítima da campanha mortal do presidente Rodrigo Duterte contra as drogas nas Filipinas.

"Eu lhe disse para se preparar para morrer", disse Mabag.

Romeo Ranoco/Reuters
Students wearing Halloween masks depicting President Rodrigo Duterte raise their clenched fists, a signature gesture of Duterte, at the college of fine arts of the University of the Philippines in Quezon city, metro Manila, Philippines October 13, 2016. REUTERS/Romeo Ranoco ORG XMIT: RVR05
Estudantes filipinos usam máscaras do rosto e fazem gesto tradicional do presidente Rodrigo Duterte

Mas Mabag, 54, que dirige uma associação de voluntários de bairro em uma grande favela de Manila, ainda apoia Duterte com entusiasmo, dizendo que suas políticas tornarão o país mais seguro e mais organizado.

"Estou encantado", disse Mabag, que usava uma camiseta de Duterte. "Esta é a única vez que vi um presidente assim, que diz exatamente o que quer dizer."

POPULARIDADE EM ALTA

O resto do mundo pode ter dificuldade para entender isso, mas Duterte ainda conta com um forte apoio nas Filipinas.

Desde que assumiu o cargo, em junho, prometendo matar os viciados em drogas e traficantes, cerca de 1.400 pessoas foram mortas pela polícia em operações antidrogas, e outras centenas por "vigilantes". Sua opção pela violência chocou outros países e lhe valeu a condenação de grupos de direitos humanos.

Ele se comparou a Hitler (e mais tarde pediu desculpas), chamou o presidente Barack Obama de "filho da p..." e, depois que uma missionária australiana foi violentada e morta, brincou que "ela era tão linda" que ele deveria ter sido o primeiro a estuprá-la. Duterte atacou o papa, apesar de liderar um país de grande maioria católica, e amaldiçoou os EUA e a União Europeia.

Erik de Castro - 24.ago.2016/Reuters
Philippine President Rodrigo Duterte makes a
Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, faz gesto durante visita a campo militar no país

Não importa. Para muitos filipinos, os rompantes apaixonados de Duterte, por mais rudes e inadequados, são sinais de sua coragem e disposição a agir. A fraca liderança de presidentes anteriores, segundo eles, levou a altos índices de crimes violentos, uso de drogas, infraestrutura totalmente inadequada e pobreza generalizada.

As primeiras pesquisas nacionais depois que Duterte se tornou presidente saíram nesta semana, mostrando que sua arrogância e o número crescente de mortes quase não prejudicaram sua extraordinária popularidade. Uma pesquisa realizada no final de setembro revelou que 83% dos filipinos tinham "muita confiança" nele, comparados com 84% em junho, depois que Duterte foi eleito, mas antes que assumisse o cargo.

Outra mostrou seu índice de confiança em ligeira queda, de 91% em julho para 86% em setembro.

"Suas iniciativas, e isto inclui a campanha antidrogas, são bem recebidas pela população", disse Ramon C. Casiple, diretor-executivo do Instituto para Reforma Política e Eleitoral. "Elas não têm um impacto na percepção geral de sua administração ou Presidência."

AMEAÇAS

Os críticos de Duterte foram ameaçados de estupro e uma variedade de mortes, incluindo por enforcamento, afogamento e, como sugeriu um médico pró-Duterte a Emily Rauhala, que escreveu sobre as Filipinas para "The Washington Post", que ela engatinhasse de volta ao útero de sua mãe e sufocasse.

Em alguns lugares, entretanto, há sinais de que as mortes começaram a abalar a popularidade do presidente.

Em uma favela em Pasay, bairro da Grande Manila, em um sábado recente, Migo Paladio, 24, estava em um beco e viu os participantes de dois velórios se dispersarem. Eram para homens mortos por vigilantes sob a suposição de que fossem traficantes de drogas.

Paladio, um técnico, disse que os dois não eram traficantes. Segundo ele, estavam entre as 10 pessoas que ele conhecia que foram mortas nos últimos três meses na campanha antidrogas de Duterte.

Ele votou em Duterte, mas disse que seu apoio está vacilando.

"Eu errei sobre o que pensei que fosse acontecer", disse Paladio. "Ele está dando prioridade às mortes. E teremos mais seis anos disso."


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