O candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, ganharia com folga da democrata Hillary Clinton —se em 1919 estivéssemos.
No ano seguinte, a Constituição americana ganhou sua 19ª emenda, que estendeu o direito de votar às mulheres. E entre elas, 96 anos depois, Hillary tem 33 pontos de vantagem contra Trump (61% vs. 28%), em sondagem encomendada pela revista "The Atlantic".
A guerra dos sexos se reflete no mapa eleitoral: o republicano leva a melhor entre os homens (48% vs. 37%).
"Para colocar esses números sob perspectiva: só pelo voto masculino, Trump derrotaria Hillary por margem similar à vitória esmagadora de Dwight Einsenhower em 1952", diz o estatístico Nate Silver, famoso por acertar o candidato preferido em 50 de 50 Estados do país em 2012, em seu site, "FiveThirtyEight".
Silver não encontra comparação possível para o desempenho de Hillary com mulheres —o pior nocaute ocorreu por 26 pontos de diferença, com vitória do republicano Warren Harding, em 1920.
O levantamento acirrou ânimos nas redes sociais. Partidários de Trump espalhavam, pela hashtag #RepealThe19 (rejeite a 19), o desgosto pela emenda que liberou o voto feminino.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
VOTO FEMININO ANTI-TrumpPesquisas indicam diferença na opção eleitoral entre homens e mulheres nos Estados Unidos |
"Sócrates achou que as mulheres fossem inferiores por terem menos dentes que os homens. Sabemos que isso é falso. É por causa do cérebro delas", disse um usuário, que errou o filósofo (foi Aristóteles) e a premissa (o grego estava enganado).
A reação veio em mensagens irônicas como "não se preocupem, homens, as mulheres não votarão, provavelmente estaremos menstruadas no dia".
Dono de uma coletânea de comentários sexistas, o republicano sempre esteve em apuros com o eleitorado feminino. A situação se agravou quando, há uma semana, ressurgiu um vídeo de 11 anos atrás —nele Trump dizia poder fazer "qualquer coisa" com garotas quando se é "uma estrela", inclusive "pegá-las pela xoxota".
Nesta semana, ex-candidatas a miss lembraram de como Trump vagava pelos bastidores, elas trocando de roupa (algumas menores de idade). Em 2005 o empresário já contara vantagem ao radialista Howard Stern: "Posso entrar porque sou o dono [dos concursos]. Então estou inspecionando".
Para remediar o dano, a estratégia de aliados de Trump é usar a "cartada Bill Clinton": evocar os vários casos do então presidente. Ex-estagiária da Casa Branca, Monica Lewinsky protagonizou o mais famoso deles e contou no Congresso que o amante introduziu um charuto nela e depois o fumou.
Já Hillary, dizem, montou cruzadas contra mulheres que acusaram seu marido de assédio —como chamar uma delas, Gennifer Flowers, de "cantora falida de cabaré". Anos depois, Bill admitiu o caso.
Quatro delas estavam no último debate entre os dois presidenciáveis, a convite de Trump, que em 2008 definiu o escândalo sexual do ex-amigo Bill como algo "totalmente desimportante".