Folha de S. Paulo


Paquistaneses usam pombos para mandar mensagens contra a Índia

Primeiro foram balões, depois transmissões brincalhonas de rádio a pilotos, e agora um pombo-correio está em uso –os paquistaneses estão recorrendo a métodos incomuns para enviar mensagens ao outro lado da fronteira em uma região que seu país disputa com a Índia.

Com as tensões em alta entre os dois vizinhos armados de bombas nucleares, depois do ataque do mês passado a uma base do exército indiano em Uri, na Caxemira, a mais nova arma na guerra de propaganda é um pombo-correio, levando uma mensagem insultuosa ao primeiro-ministro indiano Narendra Modi.

Narinder Nanu/AFP
 Indian army soldiers take up position on the perimeter of the airforce base in Pathankot on January 3, 2016. A fresh gunbattle erupted January 3, at the Indian air force base attacked by suspected Islamic militants a day earlier with the loss of 11 lives, police said. AFP PHOTO/ NARINDER NANU ORG XMIT: NN13
Soldado indiano monta guarda em Pathankot, próximo a fronteira com o Paquistão

"Nós o capturamos na noite passada", disse Rakesh Kumar, inspetor de polícia em Pathankot. "A força de segurança de fronteira o encontrou carregando uma nota escrita em urdu, dizendo algo como 'Modi, não somos mais o mesmo povo de 1971'[a data da mais recente guerra entre os dois países]. 'Agora todos e cada um de nossos filhos estão prontos para lutar contra a Índia'".

O pombo-correio é um avanço com relação ao meio de transporte preferencial na semana passada: três dúzias de balões carregando ameaças de morte escritas em híndi.

No entanto, ele talvez seja menos irritante do que outro método que vem sendo usado perto da linha de controle, a fronteira tácita entre os dois países. Pilotos do exército indiano na região reportaram ter sofrido interferência em suas transmissões ao controle de tráfego aéreo, com canções patrióticas paquistanesas transmitidas às suas cabines de pilotagem.

"Somos forçados a ouvir canções como 'Dil Dil Pakistan'", disse um piloto ao jornal "Times of India", se referindo a um grande sucesso pop de 1987 que ficou conhecido como o "hino nacional pop" do Paquistão.

RETÓRICA AGRESSIVA

Embora os incidentes tenham propiciado alguma distração leve aos observadores de ambos os lados, depois de dias de ataques e contra-ataques, também são sinal da retórica cada vez mais agressiva que cruza as fronteiras, muitas vezes empregada por civis. Os especialistas alertam que, embora acreditem que as ações militares tenham chegado a um pico, a hostilidade subjacente talvez demore a desaparecer.

No Paquistão, um apresentador de TV prometeu "ensinar uma lição" à Índia, antes de apontar para uma lista dos mísseis capazes de carregar ogivas nucleares que existem no arsenal de seu país., Na Índia, o combativo canal Times Now vem usando hashtags como #açãocontraopaq e #uniãocontraopaq.

"Se os canais de TV mandassem", comentou um diplomata ocidental, "Índia e Paquistão já estariam em guerra, a esta altura".

A belicosidade às vezes se sobrepõe aos fatos concretos. Nenhuma organização reivindicou a responsabilidade pelo ataque a Uri, que matou 19 soldados indianos no mês passado. E embora um verão de inquietação civil na Caxemira tenha custado 86 vidas e possa ser uma das causas subjacentes dos confrontos, não explica o que os responsáveis pelo ataque esperavam conseguir.

As autoridades em Nova Déli especularam que o exército paquistanês pode estar gerando tensões a fim de reforçar sua posição junto ao governo civil, especialmente porque Raheel Sharif, o comandante do exército, vai se reformar no mês que vem.

Outra sugestão é que o plano original de um ataque de baixa intensidade terminou se tornando mais sério depois que um incêndio irrompeu no quartel indiano. Ninguém fala publicamente sobre os detalhes antes que a investigação oficial indiana seja concluída. As autoridades de Islamabad negaram que o ataque tivesse qualquer relação com o governo ou exército paquistanês.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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