A premiê britânica, Theresa May, anunciou nesta quarta-feira (12) que haverá um debate no Parlamento antes de o Reino Unido começar formalmente sua saída da União Europeia.
Não há detalhes de como serão as discussões, e parlamentares por ora não terão direito a voto para decidir a estratégia do chamado "brexit", nome que se deu ao processo de retirada do bloco, decidido em plebiscito em 23 de junho.
Mas o anúncio já é, em si, um indício de que May se dobrou à pressão do Partido Trabalhista e a membros de sua própria sigla, o Partido Conservador, que exigem maior transparência em uma decisão que terá tamanho impacto no futuro do país.
Os conservadores também estão preocupados com a saúde econômica do país, diante do temor dos mercados sobre a saída da UE.
Enquanto ocorria a sessão sobre 'brexit' no Parlamento, nesta quarta (12), a libra chegou a seu nível mais baixo em um índice do Banco Central britânico que mede o volume de trocas da moeda local com as dos principais parceiros comerciais britânicos.
A marca de 73.383 pontos é a menor desde a divulgação da cesta de moedas, em 1975.
Desde a votação do 'brexit' de 23 de junho, a libra já se desvalorizou quase 18% em relação ao dólar.
Pelo menos sete ex-ministros conservadores expressaram nesta quarta preocupação com o que May fará para conter esse cenário negativo.
O ambiente de incerteza se intensificou após declarações da premiê, na semana passada, de que respeitará a vontade popular e fará um "brexit duro", sem detalhar, porém, que medidas tomará.
O processo só será iniciado quando o governo acionar o Artigo 50 do Tratado de Lisboa. A partir desse momento, as negociações devem durar em torno de dois anos.
May já afirmou ter planos de dar início ao processo até o fim de março de 2017.
Questões fundamentais, como o futuro dos migrantes e dos acordos de comércio, permanecem sem resposta.
Além disso, há desafios vindos de todas as partes do país, incluindo grupos de cidadãos que exigem transferir a decisão final ao Parlamento, em lugar do governo.
O grupo Desafio do Povo, por exemplo, argumenta que o Parlamento é o poder soberano do Reino Unido, e que o governo não tem competência para modificar atos adotados pelos legisladores.
Este e outros grupos buscam, na Justiça, que a decisão do "brexit" seja retirada das mãos de May.
QUEDA DE BRAÇO
O governo se nega, por ora, a permitir que o Parlamento vote a saída do Reino Unido. A decisão, diz, é prerrogativa do governo.
"A premissa segundo a qual estamos avançando é a de que teremos o devido discernimento. Não é aquela que permitiremos a qualquer um vetar uma decisão do povo britânico", afirmou nesta quarta-feira, aos parlamentares, David Davis, secretário do governo responsável pelo processo do "brexit".
O cenário até então previso era apresentar um plano já consolidado ao Parlamento, em discussões feitas a portas fechadas.
May tem insistido em que "brexit significa brexit", o que já virou seu bordão. A situação é agravada pelo fato de que o voto popular pela retirada da UE não incluía um modelo específico, e sim apenas a ruptura com o bloco.
O Partido Trabalhista apresentou ao governo uma lista de 170 perguntas sobre a saída do Reino Unido.
Segundo o diário britânico "Guardian", as dúvidas vão desde a permanência no mercado comum até o impacto no sistema de saúde.