Folha de S. Paulo


Em debate mais equilibrado, Trump se esquiva de escândalo e ataca Hillary

Jim Young/Reuters
Republican U.S. presidential nominee Donald Trump speaks during the second U.S. presidential town hall debate between Trump and Democratic U.S. presidential nominee Hillary Clinton at Washington University in St. Louis, Missouri, U.S., October 9, 2016. REUTERS/Jim Young ORG XMIT: STL219
Os candidatos à Presidência americana Donald Trump e Hillary Clinton, no segundo debate

Sob intensa pressão pública e crescente revolta em seu próprio partido depois da revelação de um vídeo com comentários obscenos sobre mulheres feitos por ele em 2005, o candidato republicano Donald Trump partiu para o ataque neste domingo (9), no esperado segundo debate presidencial contra sua rival democrata, Hillary Clinton.

A tensão ficou clara logo de inicio, quando os dois candidatos romperam a tradição e se cumprimentaram apenas à distância, sem aperto de mãos.

O constrangedor vídeo surgiu logo na segunda pergunta, quando Trump foi questionado se de fato havia beijado e agarrado mulheres "por ser uma estrela", como foi flagrado dizendo em 2005. A tática do republicano foi a de tentar parecer sereno, em contraste com o estilo explosivo que marcou sua campanha, admitir o erro e, principalmente, não deixar passar nenhuma oportunidade de atacar Hillary e seu marido, o ex-presidente Bill Clinton.

"Tenho grande respeito por mulheres, ninguém tem mais respeito por elas do que eu. Eu fiquei envergonhado pelo que fiz e pedi desculpas a minha família e a meus eleitores", disse Trump, afirmando que jamais abusou de mulheres e que os comentários haviam sido nada mais que "conversa de vestiário".

"Ninguém foi mais abusivo na história do que o presidente Bill Clinton, e a Hillary Clinton atacou essas mulheres violentamente. Não vamos falar de palavras, mas do que o presidente Clinton fez. Quando a Hillary levanta esse ponto, acho que é uma desgraça e ela deveria envergonhar-se."

Enquanto isso, um grupo de mulheres protestava contra Trump no campus da Universidade Washington, em St Louis (Missouri), onde foi realizado o confronto. Depois de estarem em empate técnico no primeiro debate, na ultima semana, enquanto Trump enfrentava um inferno astral, Hillary abriu entre três e seis pontos de vantagem nas pesquisas.

Mostrando preparo, porém mais tensa do que no primeiro debate, quando foi declarada vencedora pela maioria dos analistas e pesquisas, Hillary buscou personificar a indignação entre as mulheres pelas declarações sexistas de Trump e reiterar que ele não e qualificado para ser o presidente.

"Donald disse que o video não representa quem ele é, mas esta claro para todos que representa. Vimos ao longo da campanha ele insultar pessoas, dar notas a mulheres por sua aparência e denegrir uma ex-Miss Universo. Sim, este e o Donald Trump", rebateu Hillary.

Pouco antes do debate, Trump ja sinalizava que estaria na ofensiva ao organizar um dramático evento-surpresa ao lado de quatro mulheres que acusam o ex-presidente Bill Clinton de assédio. Uma a uma, Paula Jones,
Juanita Broaddrick, Kathleen Willey e Kathy Shelton contaram suas historias e defenderam Trump.

"Ações falam mais alto que palavras. O senhor Trump pode ter dito coisas feias, mas Bill Clinton me violentou e Hillary Clinton me ameaçou. Não acho que dê para comparar", disse a enfermeira aposentada Broaddrick, 73, que diz ter sido estuprada por Clinton em 1978, quanto ele era procurador-geral do Estado de Arkansas. Para aumentar a pressão, Trump levou as quatro mulheres para assistir o debate.

Embora o debate deste domingo tenha sido mais equilibrado que o primeiro, Trump voltou a mostrar despreparo e desconhecimento sobre alguns dos principais temas da campanha, como a guerra civil na Siria. Alem de acusar Hillary e o presidente Barack Obama de ter criado a facção terrorista Estado Islâmico (EI), o que não corresponde aos fatos, o candidato republicano afirmou que o grupo ja estava sob controle de Aleppo, maior cidade siria, que na realidade esta sob cerco das tropas do ditador Bashar al Assad.

"Ele disse que conhece melhor o EI que os generais. Não, voce não sabe", afirmou Hillary, reiterando que intensificaria o envio de armas aos curdos no norte da Siria para combater os terroristas e o regime de Assad.

Embora tenha sido conduzido num formato de assembleia popular, com perguntas do publico e menos afeito a choques frontais, o tom de confronto marcou o debate, com alfinetadas reciprocas em quase todas as respostas dos candidatos.

Depois de uma hora e meia de ataques mútuos, o debate terminou com um inesperado tom mais amigável, quando um eleitor que estava na plateia perguntou se eles seriam capazes de citar alguma qualidade positiva que respeitam no adversário. "Eu respeito os filhos dele, eles são incrivelmente capazes e devotados e eu acho que isso diz muito sobre Donald", respondeu Hillary.

"Não concordo com quase nada que ele diz, mas respeito isso, como mae e avo isso e muito importante para mim."

Trump, por sua vez, também não se esquivou da pergunta. "Ela não desiste, eu respeito isso. Ela e uma lutadora. Eu discordo de quase tudo pelo qual ela luta", afirmou. Depois dessas respostas, o debate terminou com o aperto de mao que faltou no inicio.


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