Folha de S. Paulo


Países da região discutem opção que inclui novo vice na Venezuela

Países da América do Sul, entre eles o Brasil, já discutem uma alternativa para solucionar a crise da Venezuela envolvendo a indicação de um novo vice-presidente para o país, que dialogue com a oposição.

A ideia surge diante da possibilidade cada vez mais real de que o referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro só ocorra em 2017, pelo calendário recentemente anunciado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

Se a consulta passasse ainda em 2016, seriam convocadas novas eleições para a sucessão de Maduro –que é o desejo da oposição. Mas se o referendo for empurrado para o próximo ano, quem assume é o vice-presidente, posto ocupado hoje por Aristóbulo Istúriz.

Na Venezuela, o vice não é eleito na mesma chapa do presidente, mas é designado por ele, por isso a possibilidade de convencer Maduro a indicar, antes do referendo, um político "propenso à realização do diálogo", como definiu um interlocutor brasileiro.

Segundo a Folha apurou, a proposta, que tem o apoio do Brasil, da Argentina, do Paraguai e do Uruguai, está em estágio inicial e ainda não foi apresentada a Maduro.

Os Estados Unidos, que têm se aproximado aos poucos em diálogo com Caracas –como mostrou o encontro de Maduro com o secretário de Estado John Kerry na Colômbia na última semana–, já têm conhecimento da proposta alternativa, mas ainda preferem apostar em um referendo em 2016.

Para Washington, se a oposição conseguir mobilizar as 4 milhões de assinaturas necessárias até o fim de outubro para convocar a consulta, ainda é possível que ela ocorra neste ano, segundo um funcionário do governo norte-americano.

O governo brasileiro e os outros países fundadores do Mercosul parecem menos otimistas e cogitam o plano B, com a indicação, por Maduro, de um vice-presidente que tenha "credibilidade semelhante" para governo e oposição e que tocaria uma transição pacífica até as próximas eleições.

Nomes para ocupar o posto não estão sendo considerados ainda–até porque as sugestões, defendem os envolvidos, devem vir dos próprios venezuelanos.

Encontrar uma figura de consenso será um desafio mesmo dentro da oposição, que se encontra "rachada" entre as lideranças de Henrique Capriles, mais moderada, e Leopoldo López.

MEDIAÇÕES

Antes de considerar a opção de designar um novo vice, também é preciso que fique claro qual será o tipo de mediação a ser desempenhada pelo Vaticano até o fim do ano; ainda é necessário que a missão da Unasul liderada pelo ex-premiê espanhol José Luis Rodríguez Zapatero reconheça que chegou a impasse nas negociações e que são necessários novos atores.

O Brasil, apesar de fazer parte do grupo de países que apoia a ideia, não é o melhor interlocutor para apresentá-la ao governo de Nicolás Maduro neste momento.

O embaixador brasileiro em Caracas, Ruy Pereira, foi convocado de volta logo após a posse de Michel Temer, em 31 de agosto, em resposta à decisão venezuelana de tirar seu embaixador de Brasília e às declarações de Maduro de que o processo de impeachment foi um "golpe oligárquico da direita".

O chanceler José Serra tem defendido que Vaticano, EUA e Cuba são as forças que "podem ajudar" na solução da crise política no país.


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