Folha de S. Paulo


EUA acusam Rússia de vazar e-mails democratas para interferir em eleição

O clima de Guerra Fria foi reeditado nesta sexta (7), com a Casa Branca se dizendo "confiante" de que o governo russo está por trás de ataques hackers contra o Comitê do Partido Democrata, que derrubaram sua presidente às vésperas da convenção do partido que chancelou a candidatura de Hillary Clinton, em julho.

"Estes furtos e divulgação têm como meta interferir no processo de eleição dos EUA", disse o secretário de Segurança Interna, Jeh Johnson, e o diretor de Inteligência Nacional, James Clapper, em comunicado.

"Essa atividade não é nova em Moscou. Os russos têm usado táticas e técnicas similares ao longo da Europa e da Eurásia, por exemplo, para influenciar a opinião pública lá", continua a nota. "Acreditamos, com base no alcance e na sensibilidade desses esforços, que apenas as autoridades mais altas na Rússia poderiam ter autorizado essas atividades."

Scott Audette/Reuters
Debbie Wasserman Schultz renunciou ao cargo de presidente do Partido Democrata
Debbie Wasserman Schultz renunciou ao cargo de presidente do Partido Democrata após vazamentos

Os ciberataques abasteceram o site WikiLeaks com quase 20 mil e-mails trocados por dirigentes democratas, entre eles a deputada Debbie Wasserman Schultz, que presidia o comitê nacional da legenda.

Ela renunciou dias depois de vir à tona a troca de mensagens em que a alta cúpula do partido trata com desdém o então rival de Hillary nas prévias internas, o senador Bernie Sanders —até sua suposta falta de fé (embora ele se diga judeu) foi sugerida como arma por um deles, que poderia vir a calhar em Estados americanos onde a religiosidade é forte.

Na época, a campanha de Hillary montou uma força-tarefa para responsabilizar Vladimir Putin pelo vazamento —o presidente russo sempre negou a intervenção. Agora, é o governo americano que oficializa as suspeitas.

As relações entre Washington e Moscou já estão tensas em razão da guerra na Síria —-ussos são aliados de longa data do ditador Bashar al-Assad, enquanto americanos estão ao lado dos rebeldes que lutam contra o regime. Há ainda o avanço da facção terrorista Estado Islâmico no país, combatido pelos dois fronts.

Nesta sexta, o secretário de Estado americano, John Kerry, afirmou que Rússia e Síria deveriam ser investigadas por crimes de guerra, após ações militares em Aleppo ceifarem vidas civis.

A hostilidade entre EUA e Rússia virou também uma ogiva eleitoral, com Hillary acusando seu adversário republicano, Donald Trump, de simpatia por Putin.

Trump de fato elogiou o russo, que diz ver como uma liderança mais forte do que o presidente Barack Obama.

Ele também chegou a dizer que hackers conterrâneos de Putin deveriam expor 30 mil e-mails que Hillary deletou do servidor privado que usou quando era secretária de Estado (2009-13). Os e-mails particulares viraram alvo de investigação do FBI, mas metade deles foi apagada.

Depois, o republicano disse que estava sendo sarcástico.

Um banner gigante de Putin foi estendido na lateral da ponte Manhattan nesta quinta-feira (6) à tarde, com a foto dele e a legenda "pacificador". A polícia removeu o pôster em menos de uma hora, e a autoria do que internautas chamaram de "atentado terrorista" ainda é desconhecida.


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