Folha de S. Paulo


Selfies e redes sociais não integram cotidiano da desconectada Pyongyang

Nas ruas da capital norte-coreana, Pyongyang, é raro ver alguém fixado no celular, seja para interagir por mensagens ou se atualizar com as últimas notícias. No circo, em piqueniques ou apresentações de rua, quase ninguém tira fotos.

A Coreia do Norte talvez abrigue uma das últimas populações para quem as redes sociais e selfies não sejam parte integrante do cotidiano.

Sinais de wi-fi também são uma realidade distante. Nenhum estava disponível no hotel Koryo, um dos maiores de Pyongyang, onde se hospedou a reportagem da Folha. E nenhum outro foi encontrado pela cidade.
Internet? "Ah, impossível", ouviu a reportagem.

Possível é. Nos hotéis internacionais, enviar um e-mail custa US$ 3, e estrangeiros têm acesso à compra de um chip de telefone com serviço 3G.

Certos funcionários e autoridades norte-coreanas também têm acesso à rede. Mas, para a maior parte da população, existe apenas uma rede nacional, com e-mail de alcance doméstico e sites em que é possível interagir e trocar brincadeiras e fotos.

Por meio da campanha "Conexão Negada", lançada neste ano, a Anistia Internacional cobra a liberdade de acesso dos norte-coreanos à informação e à conexão com o exterior.

Segundo a entidade, estima-se que 3 milhões de pessoas tenham hoje acesso ao telefone celular regularizado (o equivalente à população da capital, ou cerca de 12% dos habitantes do país), serviço autorizado pelo governo desde 2008 e que tem se popularizado, mas com alcance limitado: permite ligações nacionais e o envio de mensagens multimídia.

Veja

Apesar da escassez de recursos multimídia nos celulares, em Pyongyang é possível ver várias pessoas conversando ao telefone —os toques são, muitas vezes, simples.

Quando a reportagem da Folha chegou à capital, de avião, teve que preencher um papel que perguntava, entre outros, se a pessoa portava telefone ou outra forma de comunicação, e publicações de qualquer tipo.

Ao desembarcar, uma só pergunta foi feita: "Livros?". Frente à resposta negativa, mas à informação de que havia um iPad, o funcionário educadamente pediu que o aparelho fosse desbloqueado. Foi direto para o aplicativo "Kindle" (que reúne livros em formato digital) e olhou título por título. Terminada a inspeção, o iPad foi devolvido, e a reportagem, liberada para entrar na Coreia do Norte.

Se o hotel Koryo não oferecia wi-fi, três canais internacionais de notícias estavam liberados no quarto: um chinês, um alemão e um francês, o que permite aos hóspedes estrangeiros ao menos uma atualização rápida das principais notícias.

O congolês Roland Vele, que faz doutorado na Universidade Kim Il-sung, disse ter ficado sabendo do último teste nuclear pelo canal francês e apenas um dia depois de ele ter ocorrido, mesmo estando na capital na data do teste. "Fui perguntar para os norte-coreanos e eles confirmaram."


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