Folha de S. Paulo


Delegações latino-americanas saem da sala durante discurso de Temer

Julie Jacobson - 19.set.2016/AP
Guillaume Long, chanceler do Equador, fala em reunião sobre refugiados na ONU
Guillaume Long, chanceler do Equador, fala em reunião sobre refugiados na ONU

Algumas delegações latino-americanas se retiraram da sala quando o presidente Michel Temer fez seu discurso na ONU (Organização das Nações Unidas), na abertura da Assembleia Geral, nesta terça-feira (20).

"Equador, Costa Rica, Bolívia, Venezuela, Cuba e Nicarágua saem da Assembleia quando Michel Temer toma a palavra", disse o chanceler equatoriano, Guillaume Long, que já havia se pronunciado contra o impeachment de Dilma Rousseff.

O Ministério das Relações Exteriores da Costa Rica soltou uma nota sobre a debandada.

"Preocupa-nos a situação neste país, cujo povo apreciamos. [...] Nossa decisão soberana e individual, de não escutar a mensagem do sr. Michel Temer na Assembleia Geral, obedece a nossa dúvida de que, ante certas atitudes e ações, ele queira lecionar sobre práticas democráticas."

Procurada pela Folha, a assessoria do presidente Temer disse que ele ainda não sabia da ausência dos representantes vizinhos e que não se pronunciaria sobre o assunto.

O ministro de Relações Exteriores, José Serra, minimizou o boicote, afirmando que sua importância é "próxima de zero". Serra estava na Assembleia Geral durante o discurso de Temer, mas disse que não se deu conta da retirada das delegações porque estava sentado na primeira fila.

"Em todo caso, são cerca de 200 países na ONU, não me parece uma proporção significativa", afirmou o chanceler. Ele considerou "previsível" a reação dos países bolivarianos, mas não a da Costa Rica. "Não sabia que a Costa Rica tinha essa posição, vou olhar a nota e depois posso até comentar".

Em seu primeiro discurso na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) como presidente, Michel Temer defendeu nesta terça (20) a legitimidade do processo que levou ao impeachment de Dilma Rousseff e disse que no Brasil ninguém está imune à ação da lei.

NAÇÕES UNIDAS

A menção ao impeachment e à transição política no Brasil foi feita no fim de um discurso em que Temer falou sobre as prioridades do país em política externa e cobrou mudanças da ONU para que a entidade possa lidar com o "déficit de ordem" que há no mundo.

Para isso, reiterou uma antiga reivindicação do Brasil, a reforma do Conselho de Segurança.

"Queremos uma ONU de resultados, capaz de enfrentar os grandes desafios do nosso tempo. Nossos debates e negociações não podem confinar-se a estas salas e corredores", disse. "Os semeadores de conflitos reinventaram-se. As instituições multilaterais, não. O Brasil vem alertando, há décadas, que é fundamental tornar mais representativas as estruturas de governança global, muitas delas envelhecidas e desconectadas da realidade. Há que reformar o Conselho de Segurança da ONU."

A Assembleia Geral da ONU é considerada a instituição mais democrática da organização, já que o voto de cada um dos 193 países-membros tem o mesmo peso. Mas o poder real de decisão está no Conselho de Segurança, no qual os cinco membros permanentes tem poder de veto _ EUA, China Rússia, Reino Unido e França.

A abertura anual da Assembleia Geral, geralmente ocorrida em setembro, costuma chamar a atenção mundial pela presença de dezenas de chefes de Estado, que tem o palco da organização para marcar posições, mas não tomar decisões.


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