Folha de S. Paulo


Trump admite pela primeira vez que Obama nasceu nos Estados Unidos

"O presidente Barack Obama nasceu nos Estados Unidos, ponto. Agora todos queremos voltar a fazer a América forte e grandiosa novamente", disse nesta sexta (16) o candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, tentando deixar para trás a campanha que liderou há alguns anos com insinuações de que Obama não havia nascido nos EUA e, portanto, não poderia ser presidente.

Em recuperação nas pesquisas nacionais de opinião, que indicam um empate virtual com sua rival democrata na corrida presidencial, Hillary Clinton, Trump pela primeira vez afirmou que está satisfeito com as evidências de que Obama nasceu no Havaí, como mostrou a certidão de nascimento fornecida pela Casa Branca em 2001, no auge da polêmica alimentada pelo bilionário.

Mike Segar/Reuters
O candidato republicano à Presidência, Donald Trump, apresenta plano para a economia dos EUA, em Nova York
O candidato republicano à Presidência, Donald Trump, apresenta plano para a economia dos EUA, em Nova York

A menos de dois meses da eleição presidencial, o recuo ocorre num momento em que Trump tenta aumentar seu apelo aos eleitores afro-americanos, entre os quais Obama mantém alta popularidade. Muitos se sentiram ofendidos com as suspeitas de Trump de que o primeiro presidente negro da história dos EUA não tinha legitimidade para ocupar a Casa Branca.

Até a noite de quinta (15), Trump ainda parecia relutante em deixar a polêmica para trás. Em entrevista ao jornal "Washington Post" ele se negou a dizer que Obama havia nascido nos EUA. "Eu responderei a essa pergunta no momento certo. Simplesmente ainda não quero responder". Pouco depois, num esforço para conter os danos, um porta-voz da campanha disse que Trump acreditava que Obama havia nascido nos EUA.

Na entrevista coletiva desta sexta, o bilionário buscou transferir a controvérsia para sua adversária, afirmando que Hillary foi a primeira a questionar o local de nascimento de Obama quando disputou com ele a candidatura presidencial democrata, em 2008. "Hillary Clinton e sua campanha de 2008 começaram a controvérsia do nascimento," Trump disse. "Eu a terminei".

A acusação é falsa, apontou o "New York Times". O que de fato ocorreu foi que um estrategista da campanha de Hillary em 2008 indicou em um memorando interno as diferenças entre a origem de Obama e a de muitos americanos, diz o jornal.

Apesar do tom de deslegitimação da teoria conspiratória promovida pelo bilionário contra Obama, a campanha de Trump adotou a versão de que, na realidade, o bilionário fez um favor aos EUA ao pressionar a Casa Branca a apresentar a certidão de nascimento de Obama. "O sr. Trump prestou um grande serviço ao presidente e ao país ao levar a uma conclusão um tema levantado pela primeira vez por Hillary Clinton e sua equipe", disse Jason Miller, porta-voz do candidato republicano.

Numa conversa com jornalistas na Casa Branca nesta sexta, pouco antes da mudança de posição de Trump, o presidente Obama reagiu com sarcasmo à polêmica. "Eu tinha bastante confiança sobre onde eu nasci", ironizou Obama. "Acho que a maioria das pessoas também. Minha esperança é que a eleição presidencial reflita assuntos mais sérios que esse".

Hillary Clinton não se convenceu com a mudança no discurso de Trump, afirmando que ele deve um pedido de desculpas ao presidente Obama e ao país por ter liderado durante cinco anos um movimento "para deslegitimizar" o primeiro presidente negro dos EUA. "Sua campanha foi baseada nessa mentira ultrajante", disse ela num evento com mulheres negras em Washington. "Não há como apagar a história".


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