Folha de S. Paulo


Aceno a países da Ásia busca firmar legado de Barack Obama nos EUA

Curar feridas da guerra é "uma obrigação moral", disse Barack Obama, resumindo o espírito de sua visita nesta semana ao Laos, a primeira de um presidente americano a um país que os EUA bombardearam pesadamente na guerra do Vietnã (1954-1975).

Três meses antes, Obama havia se tornado também o primeiro presidente a ir a Hiroshima, uma das duas cidades japonesas atingidas por bombas atômicas dos EUA na Segunda Guerra (1939-45).

Na reta final de sua Presidência, incapaz de inspirar união política em casa, Obama investe na reconciliação dos EUA com outros países. E com seu passado.

Além dos gestos no Japão e no Laos, entram na conta a reaproximação com Cuba e o acordo nuclear com o Irã, numa agenda positiva que ecoa a visão do início de seu mandato, quando foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz não por ações, mas por uma visão que, para muitos críticos, não se concretizou.

"Cuba foi uma mudança substancial de política externa, a visita ao Laos é algo mais simbólico. De uma forma ou de outra, ele parece estar disposto a resolver algumas das pontas soltas da experiência americana na Guerra Fria", disse à Folha o jornalista e escritor James Mann, autor do livro "The Obamians", sobre a política externa do presidente Obama.

TONELADAS DE BOMBAS

No Laos, Obama lamentou a destruição causada pelas ofensivas dos EUA, que despejaram dois milhões de toneladas de bombas no país no auge da guerra no Vietnã —mais que no Japão e na Alemanha na Segunda Guerra.

Num cálculo per capita, o país asiático seria o mais bombardeado da história.

Assim como na visita à cidade japonesa de Hiroshima em maio, onde prestou homenagem às vitimas da bomba atômica, no Laos Obama também não fez um pedido explícito de desculpas, mas um chamado à reflexão para que a violência seja evitada.

Prometeu ainda US$ 90 milhões (R$ 288 milhões) ao país pelos próximos três anos para ajudar na desativação das bombas que não explodiram mas oferecem risco. Há 80 milhões delas no Laos. "Os restos da guerra continuam a destroçar vidas", disse.

Além da "obrigação moral", Obama também tem cálculos geoestratégicos ao investir em sua agenda positiva na Ásia. O "pivô" para a Ásia constitui um dos pilares de sua política externa, desenhada para dar mais peso à região na estratégia diplomática americana, em movimento visto como tentativa de frear a ascensão da China.

Mas Obama tem tido dor de cabeça com a principal peça deste pivô, a Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), o maior acordo comercial da história, assinado por EUA e outros 11 países em outubro de 2015 e que abrange 40% da economia mundial.

Os dois candidatos à sua sucessão, Hillary Clinton (democrata como ele) e Donald Trump (republicano), se opõem ao acordo, que virou um vilão da campanha. Sem a ratificação dos EUA, ele não entra em vigor.

Embora uma possível Presidência de Hillary seja vista como a continuação do legado de Obama, alguns preveem que sua ex-secretária de Estado provavelmente teria uma inclinação menor pela agenda paz e amor.

"Acho que ela é mais agressiva que Obama em política externa e mais ligada à noção de que os EUA são a nação indispensável", diz Mann.


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