Uma derrota humilhante de Angela Merkel nas eleições estaduais no seu próprio quintal neste domingo (4) e outro possível fracasso daqui duas semanas em Berlim estão formando uma sombra ameaçadora sobre a esperança da chanceler de vencer ou mesmo concorrer a um quarto mandato em 2017.
Analistas esperam que Merkel enfrente o desastre eleitoral no estado rural de Mecklenburgo-Pomerânia Ocidental, onde seu partido conservador União Democrata Cristã (CDU) caiu para um chocante terceiro lugar, atrás dos social-democratas de centro-esquerda (SPD) e do partido anti-imigrante Alternativa para a Alemanha (AfD).
Mas a chanceler, cujas taxas de aprovação imponentes levaram seu partido a vitórias nas urnas nos últimos 11 anos, de repente transformou-se em um fardo em meio a uma assustadora queda de apoio. Os conservadores, que comandaram o país durante 47 dos últimos 65 anos, culpam a política pró-refugiados de Merkel pelas derrotas.
O AfD transformou a chegada de um milhão de refugiados durante o último ano em uma batalha contra Merkel, que tomou a decisão solitária no ano passado de abrir as portas para as pessoas fugindo da guerra e dos tumultos.
"As pessoas verão isso como o início do 'Kanzlerdaemmerung' [crepúsculo da chanceler]", diz Gero Neugebauer, cientista político da Universidade Livre de Berlim, sobre a derrota de Merkel no distrito em que viveu na infância.
"Se muitos membros da CDU começarem a ver essa derrota como culpa de Merkel, e membros do Parlamento começarem a vê-la como uma ameaça ao partido e aos seus próprios cargos no próximo ano, toda a situação pode escalar para fora de controle. Se a AfD vencer a CDU de novo em duas semanas em Berlim, as coisas podem ficar feias rápido", diz Neugebauer.
Descontentamento em relação ao acolhimento de refugiados espalhou-se mesmo no extremo rural do país com o menor número de estrangeiros. Há apenas 20 mil refugiados na região de Mecklenburgo-Pomerânia Ocidental e somente 65 mil de um total de 1,6 milhão de residentes são estrangeiros.
Uma pesquisa de opinião recente mostrou que a aprovação de Merkel caiu de 67% para 45%, o valor mais baixo em cinco anos. Nesse cenário, seus companheiros conservadores ganhariam apenas 33% do Parlamento –há um ano atrás, esse percentual era de 41%– de acordo com levantamento da ARD TV. Isso significa perder 30 representantes no próximo ano.
"A única questão com a qual os eleitores se importam agora é a política de migração irresponsável de Merkel", diz Leif-Erik Holm, líder do AfD em Mecklenburgo-Pomerânia Ocidental. "Isso não é o que as pessoas querem. Eu acho que é o começo do fim de Merkel", afirma.
De repente tornou-se obscuro se Merkel chegará sequer a ter a oportunidade de concorrer a um quarto mandato. De acordo com reportagem do "Der Spiegel", ela adiou o anúncio de sua candidatura após resistência do partido aliado União Social Cristã (CSU).
Há rumores recorrentes de que o líder do CSU, Horst Seehofer, está considerando concorrer. Ele pediu para Merkel colocar um limite no número de refugiados. A derrota de domingo foi mais uma evidência para o CSU de que Merkel precisa mudar.
"Nós precisamos de um limite no número de refugiados e de deportações mais rápidas", disse Andreas Scheuer, vice-líder do CSU, ao diário "Der Tagesspiegel";
Thomas Jaeger, cientista político da Universidade de Colônia, disse à Reuters que Merkel está em baixa mas longe de estar fora do páreo.
"É definitivamente um tapa na cara dela e na de suas políticas", diz Jaeger. "Ela será por muito tempo culpabilizada por deixar um partido à direita dos conservadores consolidar sua presença. Mas não há ninguém em seu partido que vá tentar derrubá-la. E, se alguém tentar, será nocauteado", completa.