Folha de S. Paulo


EI perde principais líderes, mas analistas veem resiliência da facção

Os ataques da coalizão liderada pelos EUA derrubaram, uma a uma, figuras-chave do Estado Islâmico.

Na terça (30), a milícia terrorista anunciou a morte de seu principal porta-voz, Abu Muhammad al-Adnani, 39, responsável pelo recrutamento e por atentados no exterior.

VÁCUO DE LIDERANÇA

Anteriormente, ataques haviam supostamente matado Abu Omar al-Shishani, "ministro da guerra" e número dois da facção, além de outros nomes de destaque.

Analistas observam, agora, como o EI está esvaziado da liderança que moldou sua estratégia. O vazio no comando coincide com um período de perdas territoriais.

O combate ao terrorismo matou diversos outros líderes nos últimos anos, mas revelou a resiliência dessas organizações, capazes de produzir novas figuras.

Abu Musab al-Zarqawi, criador da milícia que viria a se tornar o EI, foi morto em 2006. Seus sucessores, Abu Omar al-Baghdadi e Abu Ayyub al-Masri, morreram em 2010. Haji Bakr, responsável pela fundamental decisão de incluir ex-militares iraquianos na liderança do EI, foi morto em 2014.

"Pense nos líderes que foram mortos pelos EUA", afirma à Folha Alberto Fernandez, que chefiou de 2012 a 2015 o Centro para Comunicações Estratégicas de Contraterrorismo do Departamento de Estado dos EUA. "Essa é uma longa lista do 'crème de la crème' do terrorismo internacional. Mas eles continuam a operar", diz.

OPERAÇÃO

O porta-voz Adnani nasceu em 1977 na província de Idlib, na Síria. Chamava-se Taha Subhi Falaha e havia sido detido pelos EUA no passado.

Sua morte, nesta semana, terá forte impacto porque ele era uma das figuras mais temidas da facção. Apagar seu nome da hierarquia terrorista afetará o recrutamento, pelo qual era responsável. Adnani também planejava ataques no exterior.

"Ele anunciou a restauração do califado em junho de 2014 e pediu ataques ao Ocidente", afirma Fernandez. "Mas Adnani era muito mais do que um porta-voz, tinha um papel operacional."

Adnani era, além disso, uma figura próxima a Zarqawi. Com sua morte, a primeira geração de líderes está dizimada. Dos grandes nomes restam apenas Abu Bakr al-Baghdadi, autointitulado califa da milícia, e o clérigo Turki al-Binali, do Bahrein.

SÍMBOLO

Há relatos conflitantes a respeito da morte de Adnani. O EI anunciou a baixa por meio de seus canais oficiais, afirmando que ele inspecionava as operações na região de Aleppo, onde é hoje travada uma importante batalha com o regime sírio e forças rebeldes.

Supõe-se que Adnani tenha morrido em Al-Bab, após um ataque aéreo. A Rússia afirmou, nesta quarta (31), ter sido responsável pela morte. Os EUA, porém, disseram não haver evidências da participação russa no ataque.

A região onde Adnani teria morrido tem importância simbólica para o EI, pois a milícia acredita numa profecia islâmica sobre uma batalha decisiva entre muçulmanos e cristãos na cidade de Dabiq, perto de Aleppo e de Al-Bab.

O EI tem perdido território nos últimos meses. Forças iraquianas avançam rumo a Mossul, principal cidade da milícia no Iraque.

Uma coalizão apoiada pelos EUA está tomando áreas na fronteira síria com a Turquia, cortando, assim, rotas de suprimento.


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